segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

A TH E O NOVO PARADIGMA

EM BUSCA DE UM NOVO PARADIGMA



A moral e as religiões, que não passam de acordos e/ou tratados comportamentais e ritualísticos impostos a cada sociedade que os admite, são considerados até hoje como os fomentadores e mantenedores da civilidade entre os homens, mas não há como negar que ambas falharam em seu propósito, pois o que estamos assistindo até os dias de hoje é uma selvagem luta de homens contra homens, pelos motivos mais banais ou por questões ideológicas, econômicas, socioculturais e até religiosas. O mundo que temos de encarar todos os dias é um mundo perigoso e violento, repleto de rivalidades de toda espécie, do qual somos uma vítima em potencial, sejamos culpados ou inocentes.

Ao que parece, devemos lançar mão de uma nova proposta, um novo paradigma, que pode até lembrar os princípios morais e religiosos, mas que, na verdade, precisam ser fundamentados em novos valores e novas noções. De nada adiantará um esforço por qualquer mudança para melhor, se não nos livrarmos de certos valores e ideais que não valorizam o homem – só o escravizam mais. A moral que pretenda se impor como uma lei sobre o homem deve antes de tudo saber “o que é o homem”; deve promover a sua realização; deve primar por seus instintos nobres. Uma religião que pretenda indicar um caminho espiritual para o homem deve, sobretudo, conhecer a sua dimensão espiritual; jamais poderá impor a ele “leis divinas”, pois qualquer suposto “Deus” nunca poderá ser conhecido ou reconhecido de cima para baixo. Já não importa mais aquilo que impôs como tradição; já não importam as palavras encontradas na “letra morta” das Escrituras Sagradas; já não importa a autoridade do sacerdotes ou das Instituições Religiosas – tudo isso falhou, e tornou-se urgente uma mudança radical de nossa visão sobre tais coisas. Não sou eu quem diz “falhou”. Basta uma breve observação das coisas à nossa volta, no nosso dia-a-dia, nas nossas relações, na família, no trabalho etc. Tudo está em ruínas por toda parte, e nós não podemos apenas apontar os possíveis culpados (que certamente somos nós mesmos), temos que buscar um novo caminho, pois esse não nos levou a nada de positivo – ele está arrasando dia após dia com nossas vidas, nossas relações, nossa potência.

Estamos demasiadamente acostumados a este corpo que temos para renunciar um pouco a ele. Isso não significa “negligenciá-lo”! Precisamos relembrar que ele é apenas um veículo. Veículo de quem? Daquele que realmente somos, ora! E quem somos? Bem, essa descoberta não pode ser feita apenas verbalmente, apenas intelectualmente, apenas pelo peso de alguma autoridade, que nos dirá “nós somos isto ou aquilo”. Todos concordamos que há em nós uma busca pela felicidade, pela Verdade, pela auto-realização. Também devemos concordar que há no homem uma dimensão espiritual, ou seja, algo intrínseco que o impulsiona a reconhecer que há valores maiores do que todos os bens materiais que se possa conquistar, e que também lhe dá uma certeza ou, pelo menos, um forte impressão de que ele é algo mais sutil, porém, mais duradouro e maior do que o corpo.  Infelizmente, só percebemos isso, com maior freqüência, nas situações tristes ou adversas, como diante da morte de alguém que amamos. Sua ausência se faz uma presença. Quando é alguém que nos conferia proteção e afeto, como mãe ou pai, passamos o resto de nossas vidas com uma leve impressão de que ela ou ele nos “vigia” e “cuida” de algum lugar invisível. De onde nos vem tal impressão? Seria ela apenas um expressão do nosso medo, da nossa angústia, da nossa fragilidade, da nossa condição de mortais?

O que acontece ao homem, na morte, para que ele se torne apenas aquele corpo inerte, rijo, isento de qualquer sensação ou vontade? O que havia nele, enquanto vivo, que fazia circular o seu sangue, que mexia seus músculos, que o fazia pensar, falar e agir com decisão e vontade? Ora, deve haver algo que dá vigor ao corpo e o ponha em funcionamento mesmo ao dormir ou em estado de coma, e esse “algo”, ao se retirar dele, o deixa inerte e sem vigor. É esse elemento, essa entidade, essa força motriz que deve ser procurada. Talvez, alguns de vocês pensem: “Ora, mas isso já sabemos há muito tempo o que é – trata-se da nossa alma!”. Ao que eu perguntarei: “Mas quem descobriu isso? Fomos nós mesmos, ou foi outro alguém que nos levou a aceitar essa suposta descoberta dele? Fica claro agora que ninguém pode descobrir as coisas por nós – principalmente se essa “coisa” diz respeito a nós. Ninguém pode chegar em nossa casa e dizer: “Olha bem: isto é teu corpo e aquilo é tua alma!”. Seja lá quem for, essa pessoa não tem tal autoridade e sua proposição é no mínimo suspeita. Portanto, devemos abandonar todo o tipo de autoridade, seja moral ou religiosa, se somos sérios no toicante a fazer nossa própria descoberta e assim encontrar um novo paradigma para nossas vidas. Sim, porque, antes de fazer essa grande descoberta (quem somos nós), continuaremos uma multidão de selvagens supostamente civilizados, que se devoram mutuamente, dia após dia.

O mundo atual é um verdadeiro caos, um lamaçal de intrigas, de rivalidades, de competições insanas. A moral jamais poderá dar cabo disso e as religiões só têm colaborado com mais intolerância e conflito. Não saber quem somos redunda em não saber como lidar com essa nossa selvageria e assim, se não destruirmos em breve toda a humanidade, perpetuaremos nossa guerra desumana ad infinitum.

Neste ponto, alguns de vocês podem dizer: “Que tipo de proposta o senhor tem a nos oferecer? Pois, se já não podemos mais seguir desta maneira, precisamos de uma outra que a substitua!”. E eu direi: “Se eu der a vocês o novo paradigma, estaremos incorrendo no mesmo antigo erro!” Notem que foi assim que se estabeleceram a moral e a religião, e isso não queremos mais. Portanto, precisamos trilhar esse caminho, essa busca, juntos – sem que qualquer de nós se imponha como autoridade. É claro que podemos perceber algumas pistas que devem levar ao que procuramos, mas devemos seguir lado a lado. É fácil ir numa certa direção, com a sensação de segurança, quando há um guia, um líder; é fácil não ter a responsabilidade de se perder, de se desguiar; enfim, é fácil ser “rebanho”. Mas isso já foi feito – e não deu certo, nem jamais dará!

Talvez eu já tenha feito algumas descobertas interessantes, as quais me dão certa segurança no meu caminhar. Mas cada um deve estar disposto a fazer suas próprias descobertas, encontrar certas pistas que assegurem que está no caminho certo. A T.H. pode ser muito útil nessa busca. Pode ser útil para todos, porque foi útil para mim. Mas cada um já deve trazer consigo certas noções, que não podem ser aquelas caducas; certos valores, que não podem ser aqueles ultrapassados. Não chamaremos isso de certezas ou convicções – chamaremos de “pistas”. Como chegaremos a elas? Como eu disse lá no início desta dissertação, primeiramente devemos deixar um pouco de lado esse nosso “culto à matéria”, ao corpo, ao veículo das percepções existenciais. È preciso introspecção!

A Meditação T.H. não é muito diferente daquela já tão conhecida de todos que se interessam por assuntos espirituais, yoga e relaxamento. Mas ela tem, sim, sua diferença. Ela tem etapas e não se limita a alguns minutos por dia. Ela tem o seu momento de quietude e o seu momento de ação. Por isso é que a T.H. é uma prática holística para o cotidiano. Mais ou menos como ensinado nas escolas Zen, nossa meditação tem que imiscuir nos afazeres diários. No começo, haverá dificuldades, porém, em breve, será tão simples quanto é para um adolescente “estudar e ouvir música”. A prática trará facilidade; o domínio dela, a experiência.


Também como disse mais em cima, o novo paradigma não pode ser imposto cima para baixo – ele deve ser encontrado aqui, em nós, e jamais provir de uma autoridade externa, não importa qual seja ela. O novo paradigma é um desafio nosso e, quando encontrado, será uma conquista nossa. Ninguém mais nos dirá “somente de mim vem a salvação”; nenhum Avatar, nem o mais excelso deles. Primeiramente porque não estamos em busca de qualquer salvação (isso foi uma noção que nos foi imposta e um valor já ultrapassado); em segundo lugar, porque já sabemos que encontrar a Verdade é muito mais valoroso do que recebê-la das mãos de outrem.