A EXPERIÊNCIA HARE KRISHNA
Émile Coué e Arthur Riedel foram os alicerces de
minha busca por compreender a razão pela qual alguns homens são bem-sucedidos na vida, ou pelo menos em determinadas áreas dela, enquanto outros, não. Eles foram importantes, pois chegaram em minha vida ainda na adolescência, época em que se definem muitas coisas em nosso caráter.
minha busca por compreender a razão pela qual alguns homens são bem-sucedidos na vida, ou pelo menos em determinadas áreas dela, enquanto outros, não. Eles foram importantes, pois chegaram em minha vida ainda na adolescência, época em que se definem muitas coisas em nosso caráter.
No início da década de 1980, quando estava próximo dos meus vinte anos, perdi minha mãe querida e ganhei um mundo esmagador. Tudo à minha volta ficara grande e opressivo – ao que parecia, ou eu devorava o mundo, ou ele ia me devorar. Intensifiquei meus estudos esotéricos, ampliei minha pesquisa das religiões, me informei sobre algumas sociedades secretas, como a Maçonaria e a Rosacruz, e sobre alguns ocultistas, como Papus e Aleister Crowley. Foi quando conheci Ramakrishna, Krishnamurti e, em seguida, os rapazes do Movimento Hare Krishna.
Foi numa tarde, no final do ano de 1983. Um rapaz, que exalava um cheiro forte de uma espécie de essência, distribuiu para todos dentro do ônibus um livreto, feito em papel reciclado, e uns “pauzinhos cheirosos” (onde parecia estar todo aquele perfume embriagador). O rapaz ofereceu tudo aquilo por uma valor bem pequeno, que dava para comprar – então , comprei. O livreto se intitulava “Perguntas Perfeitas, Respostas Perfeitas” e os pauzinhos cheirosos eram incensos de patchouli. Gostei do que li e do cheiro que senti, e, em breve, comecei a frequentar o Templo Hare Krishna, tornando-me, mais tarde, um deles.
Foi dentro do Movimento Hare Krishna que exerci minha própria religiosidade, pratiquei uma religião escolhida, e não “herdada”, aprendi a disciplinar minha rotina (acordar às 4 horas da manhã, tomar banho, cantar o Mantra[i], etc.). Compreendi que, na lida diária, há uma força da qual nenhum homem pode se eximir – a que o obriga a “agir constantemente”. Estamos, de certa forma, sempre “ativos”, agindo continuamente para realizar nossas tarefas mais corriqueiras e banais do dia-a-dia e, exatamente por serem comuns, não lhes dedicamos maiores cuidados nem lhes damos o verdadeiro valor.
Durante os anos em que fui Hare Krishna, aprendi a dar valor a essa ações ordinárias. Fui ensinado a acordar, não apenas para abandonar o sono ou a preguiça, mas também para “despertar para a vida”; a tomar banho, não porque meu corpo deve estar sujo, mas porque ele é o templo daquilo que realmente sou; a cozinhar de ânimo elevado, não unicamente para mais tarde saciar minha fome, mas para me alimentar de “energia positiva”, capaz de dar manutenção a minha saúde ou de promover minha cura.
Lia diariamente o Bhagavad-Gita[ii] (e marcava trechos dele aos quais sempre retornava, para jamais esquecer. Um deles diz assim: “Todos os homens são forçados a agir desamparadamente, de acordo com os impulsos nascidos dos modos da natureza material; por isso, ninguém pode abster-se de fazer algo, nem mesmo por um momento” – Cap. 3, Karma-Yoga[iii], texto 5). Ora, se tenho que agir de qualquer maneira, melhor então que eu aja conforme minha vontade e consciência, empregando uma energia bem dirigida!
Há inúmeras passagens marcadas no meu Bhagavad-Gita, às quais sempre recorro em consultas posteriores. Essa passagens me têm orientado todos esses anos. Numa delas, por exemplo, Krishna diz a Arjuna que a mente controlada é a melhor amiga do homem, mas quando descontrolada é a sua pior inimiga,e conclui mais adiante: “De qualquer coisa e de onde quer que a mente divague, devido à sua natureza flutuante e instável, a pessoa deve certamente retirá-la e trazê-la de volta sob o controle do eu” – Cap. 6, Sankhya-Yoga[iv], texto 26).
A prática do Yoga e da Meditação é uma técnica infalível para aquele que busca o controle da própria mente. Com a mente controlada, nossa vontade pode ser facilmente direcionada para realizar o que precisamos realizar, doutra forma, ela acaba por ser usada para os caprichos e desejos incessantes, que geralmente não contribuem nem para o progresso material, nem para o espiritual. O Mantra-Yoga nos disciplina a fixar a mente num ponto, para que ela não divague em vãos pensamentos que não levam a nada; a Meditação acalma os impulsos animais, que são represados pela moralidade, mas que encontram vazão, quando sentimentos tempestuosos, como o ódio e a ira, são despertados diante das condições adversas da vida.
Foi dentro do Movimento Hare Krishna que tomei conhecimento sobre um dos homens que, sem me dar conta, mais me influenciariam pela vida afora – Srila Prabhupada, o fundador do movimento. Esse homem de força de vontade e de determinação fora do comum, aos 69 anos de idade, viajou durante 35 dias dentro de um navio, de Calcutá, Índia, para Boston, nos Estados Unidos, sofreu três ataques cardíacos durante o percurso, mas resistiu e fundou seu Movimento de divulgação de seus ideais na América e ainda viveu mais 12 anos, para ver sua obra plenamente realizada.
Apesar de ter chegado aos E.U.A já idoso e de saúde debilitada, com poucas rúpias (o equivalente a sete dólares em moeda indiana) no bolso, Prabhupada estava resoluto em realizar aquilo para o que veio, e dizia, a despeito das más circunstâncias: “ Eu não vim para mendigar nada, mas sim para dar algo”. Seu coração e sua saúde estavam muito fracos, mas sua fé era forte e sua determinação, inabalável. Depois de uma rápida parada no porto de Boston, o Jaladhuta, navio em que viera da Índia, seguiu para Nova Iorque, onde se deu, realmente, o encontro do sadhu bengali com o novo mundo.
Os primeiros dias do guru indiano aos E.U.A. não foram nada fáceis. Precisou da ajuda de muita gente para conseguir um lugar digno para morar, embora nada confortável para viver. No livro “Plantando a Semente” (ou, Prabhupada Lilamrta – que em sânscrito quer dizer “Os Passatempos de Prabhupada”), Satsvarupa Dasa Goswami (um dos primeiros seguidores e secretário pessoal de Prabhupada) nos relata sobre os primeiros aposentos que o guru adquiriu com a ajuda de amigos: “O pequeno escritório deu a Prabhupada o que ele estava procurando – seu próprio canto – mas nem eufemisticamente poder-se-ia chamar esse lugar de templo. O nome de Prabhupada estava na porta; qualquer pessoa que o procurasse poderia encontrá-lo. Mas quem o visitaria ali? [...] Mesmo uma pessoa interessada em temas espirituais acharia desconfortável sentar-se no chão liso de um quarto com formato de vagão de trem”. Apesar disso, nada parecia um infortúnio para aquele velhinho determinado, que dizia: “Onde quer que esteja, esse é o meu lar”.
Prabhupada, como bom leitor do Bhagavad-Gita, sabia que a Existência exige do homem ação contínua e, portanto, sabia também que deveria direcionar todas as suas ações para seu único e indesviável propósito. Assim, ele costumava dizer: “Estou sempre aqui trabalhando em algo, lendo ou escrevendo. Quando sinto fome, como algo. Quando sinto sono, deito-me um pouco. Afora isso, não me sinto cansado”. Quando ele reconhecia que as muitas dificuldades demandariam muito tempo passar e melhorar as coisas, ele dizia: “Bem, temos um longo caminho a percorrer. Mas, eu sou muito paciente”.
Swami Prabhupada realizou uma grande obra ao longo de onze anos muito difíceis, somente porque direcionou toda a sua energia para um só fim. Essa obra está sendo levada à frente por seus discípulos. Creio que, usando essa energia maravilhosa que está disponível dentro de nós, qualquer um pode realizar grandes obras, que parecerão “verdadeiros milagres”, se levadas em conta todas as adversidades. Mas, para que nunca nos contentemos com o já conquistado, vale lembrar o que disse o velho swami, certa vez, em resposta a alguém, durante uma de suas muitas palestras nos Estados Unidos: “Enquanto estivermos neste mundo material, haverá muitos problemas”.
* A Sociedade Internacional para a Consciência de Krishna, ou simplesmente ISKCON (International Society for Krishna Consciousness) é uma associação religiosa, filosófica e cultural derivada do Hinduísmo vaishnava. Fundada em 1966 na cidade de Nova York pelo pensador indiano A. C. Bhaktivedanta Swami Prabhupada (Srila Prabhupada), é conhecida popularmente como Movimento Hare Krishna e atualmente possui mais de 350 centros culturais, 60 comunidades alternativas, 50 escolas e 60 restaurantes no mundo todo. Depois de publicar três volumes do Bhagavatam, Srila Prabhupada viajou para os Estados Unidos, em setembro de 1965, para cumprir a missão delegada por seu mestre espiritual. Trazia consigo nada mais do que uma muda de roupa, alguns livros e sete dólares. Durante a viagem, a bordo do navio cargueiro Jaladhuta, sofreu três ataques cardíacos.
Nos primeiros anos em Nova York , Prabhupada viveu como hóspede de imigrantes indianos, intelectuais, místicos e hippies. Só conseguiu fundar a ISKCON após quase um ano de grandes dificuldades e privações.
Antes de sua morte em 14 de novembro de 1977, Prabhupada viu seu Movimento crescer, iniciou milhares de discípulos, escreveu obras que são usadas em universidades do mundo inteiro e já foram traduzidas para mais de 50 idiomas, deu a volta ao mundo quatorze vezes para ministrar conferências, e, sozinho, tornou "Hare Krishna" uma expressão familiar.
Fonte: Wikipédia, a enciclopédia livre.
[i] Da raiz sânscrita Man (mente) e Tra (aquilo que liberta), o mantra é uma palavra, expressão ou som que tem o poder de levar a mente para um nível de consciência superior.
[ii] Um dos textos considerados sagrados pelos hindus, parte mais recente dos Upanishads. Também conhecido como Gitopanishad.
[iii] Ramo do Yoga que trata das ações e reações na Existência e prescreve o Dharma (a ação reta, desprovida de desejo ou interesse) como prática na vida.
[iv] Ramo do Yoga que trata da união entre o Purusha (a dimensão espiritual do homem) e a Prakriti (a dimensão material) e suas disposições, segundo os modos da natureza.
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