ENTREVISTAS DO MOFICUSHINTH
Nossa entrevista de hoje é com Moisés Matias. Fotógrafo,
pesquisador, poeta e jornalista, graduado pela Universidade Federal do Maranhão - UFMA. Moisés, desde 2002, é também, e principalmente, um ecologista, levando em frente um projeto ímpar aqui no Maranhão no seu sítio Panakuí, onde recebe visitantes, ministra seus cursos e desenvolve sua "ecologia intuitiva", como ele próprio costuma chamar.
Nesta oportunidade, vamos falar principalmente desse trabalho pioneiro no Panakuí, mas também sobre política, cultura e ecologia, é claro
BLOG: Quando começou seu interesse por essa questão ecológica, sustentável, e
como foi isso?
MM: Sou ecológico desde a origem. Nasci no meio da Amazônia, na fronteira
com o Peru, em Tarauacá, no Acre, bem distante da cidade mais próxima. Saí de
lá aos 03 anos, mas os registros da origem estão na minha essência. Cheguei ao
Maranhão em 1987, para estudar jornalismo (UFMA). Logo me envolvi com o
jornalismo ecológico, com a criação do jornal Folha de Gaia, ao lado de amigos
como Paulo Melo Souza. Como jornalista e fotógrafo, percorri o Maranhão e vi
uma terra generosa e farta, mas com uma desigualdade social absurda. Comecei
então a escrever sobre os temas ecológicos, mas ao mesmo tempo pensava como
poderia contribuir, de forma mais decisiva, para a mudança do quadro. Escrevi
livros, matérias e participei ativamente do debate da política ecológica, no
Maranhão. Mas em 2002 eu comecei a fazer o laboratório de ecologia intuitiva, o
Sítio Panakuí, um projeto que prova que o Maranhão é muito rico, apesar de
socialmente injusto. É nesta fortaleza, o Panakuí, que eu me posiciono como
jornalista e ecologista, recebo pessoas para os cursos que ministro, criando e
trabalhando na formação da rede de sítios ecológicos.
BLOG: Você tem encontrado
apoio nas instâncias governamentais e em outros setores da sociedade? Quais?
MM: Desde o início, o Sítio Panakuí foi uma iniciativa solitária, feita com
muito esforço. O tema ecologia nunca foi prioridade, no Maranhão. Há até
debates e discussões, mas a ação concreta é algo distante. Assim, busco
parcerias, mas conto mesmo é com a venda dos livros Sítio ecológico, um guia
para salvar a terra, e Ecologia e Criatividade, com as palestras, os cursos e a
vivências que realizo no Sítio Panakuí.
Estamos agora implantando um dos maiores negócios ecológicos do
Maranhão. Até 2014, nós esperamos contar com um sítio ecológico parceiro em cada
um dos 217 municípios, assim como estamos apresentando as propostas Rede de
sítios ecológicos, Escola sítio ecológico e a campanha Resíduo orgânico zero,
às administrações municipais, às organizações públicas e às empresas.
BLOG: O projeto que
você desenvolveu no Sítio Panakuí se espelhou em algum modelo em especial, ou
tem autoria própria?
MM: O Sítio Panakuí é o resultado de 25 anos de estudos e pesquisas na área
ecológica. Tem a sua originalidade, é uma fórmula que valoriza a cultura
tradicional e os recursos naturais, gerando uma química explosiva que ativa a
Felicidade Interna Bruta (FIB), o indicador alternativo que, entre outros
ingredientes, considera a felicidade como riqueza. Tem muito do autor, mas faz
uma releitura da Permacultura, da Agroecologia, firmando-se principalmente no
acervo da cultura tradicional.
Construído de forma ousada e pioneira, o Sítio Panakuí é hoje uma das
melhores sínteses ecológicas do Maranhão e até do Brasil. Lá nós conseguimos
mostrar que é possível melhorar a vida das pessoas em um tempo relativamente
curto, fazendo a ecologia, preservando os recursos naturais.
BLOG: Seu projeto
já foi “imitado” por algum outro proprietário de sítio ou fazenda aqui no
Maranhão?
MM: O Sítio Ecológico já existe aos milhares, no Maranhão. É uma categoria
existente na cultura regional, mas é invisível e não valorizado. Aqueles que o
fazem, as famílias que vivem no campo, ou na cidade, tentando viver em paz com
a natureza, são consideradas atrasadas. Na verdade, elas preservam o modelo
alternativo de sociedade, mostrando o caminho para a preservação da vida no
planetinha terra. Com o Sítio Panakuí, nós apresentamos uma perspectiva
promissora para as famílias que assim vivem, para a sociedade como um todo.
Sim, podemos e devemos viver ecologicamente, produzindo os nossos alimentos e
preservando a vida na terra.
BLOG: Como você vê
a consciência das pessoas sobre a questão ecológica, sobretudo no tema
“sustentabilidade”, aqui no Maranhão?
MM: A consciência ecológica é uma herança que vem dos ancestrais, dos povos
que viveram milhares de anos em harmonia, em equilíbrio com a natureza. Como o
povo maranhense tem raízes muito fortes na cultura negra africana, nas
tradições indígenas, há um potencial ecológico muito grande na cultura
tradicional, mas que está sufocado pelo modelo dominante, que é urbanizante e
marcado pela racionalidade tecnicista. Com o método Sítio ecológico intuitivo nós procuramos mostrar como as
pessoas podem desbloquear o seu “eu ecológico” e, assim, avançar em um conceito
com saúde e qualidade de vida.
BLOG: Alguma
universidade apóia, incentiva ou reconhece o seu trabalho no sítio Panakuí?
MM: Infelizmente as universidades são as propagadoras do modelo racionalista
e se colocam como as únicas detentoras do saber e produtoras do conhecimento.
As nossas instituições de ensino têm uma grande dívida com a nossa história.
Elas são reprodutoras de conhecimentos gerados em outras paragens,
principalmente no continente europeu, nas nações consideradas ricas, como os
E.U.A.
Os conteúdos diferenciados que apresentam saem sempre como algo marginal
e alternativo. O foco delas é a reprodução do modelo vigente. Aí temos uma luta
desigual, mas que cresce a cada dia. Em todos os cursos surgem professores e
alunos defendendo as mudanças para o paradigma alternativo e ecológico, sinal
de uma grande mudança está em
curso. Mas as instituições universitárias possuem um núcleo
duro que resiste às mudanças. Como exemplo, cito que nenhuma instituição
universitária faz o dever de casa, como a coleta seletiva, o tratamento do
resíduo orgânico, o tratamento do esgoto ou mesmo a coleta da água da chuva.
Esperamos contar com as instituições de ensino como parceiras, mas não
estamos parados. Para propagar o modelo sustentável, estamos criando a
Universidade Livre Panakuí, um espaço para a valorização do conhecimento dos
sábios e sábias do Maranhão. Inicialmente ela funcionará no Sítio Panakuí, com
os três cursos que ministro de forma intensiva, na metodologia da imersão, mas
em breve a Universidade Livre estará espalhada por todas as regiões do Maranhão
e do país, como mais um departamento dos sítios ecológicos, mobilizando e melhorando
a vida de milhares de sábios e sábias da cultura tradicional.
BLOG: No campo
político. Em sua opinião, a cidade de São Luís verá alguma diferença
significativa entre a administração do ex-prefeito João Castelo e a do atual,
Edvaldo Holanda Jr.?
MM: A administração João Castelo foi um desastre. Não há como estabelecer
uma comparação. Trata-se de um gestor envelhecido que não procurou se atualizar
e que será esquecido por seus equívocos e escolhas equivocadas, para dizer o
mínimo. Já Edivaldo Holanda vem com o fator juventude e espero que faça justiça
a isto. Ainda está no início e precisa fazer muito para ser uma referência
administrativa na questão ecológica. Vejo como vantagem o fato dele estar ao
lado do Flávio Dino, um postulante ao Governo do Maranhão que carrega a nossa
esperança na construção de uma estado solidário e ecológico. Tenho vários
amigos, pessoas que confio, no governo Edvaldo Holanda. Ele será melhor que o
anterior, mas seu governo precisa ser realmente de transformação cultural. É preciso
fazer a revolução ecológica, e o Sítio Panakuí, que está no território de São
Luís, é um aliado importante. Esperamos em breve receber a visita técnica do
Prefeito de São Luís, juntamente com sua equipe, onde deverá conhecer as
tecnologias e os processos desenvolvidos no local, uma área de 03 há, mas que
podem ser replicadas em todo o município.
BLOG: No campo
cultural. Você acha importante a discussão velada entre as classes populares e
a classe intelectual em “rotular” São Luís como “Jamaica Brasileira” ou “Atenas
Maranhense”, respectivamente?
MM: Nem Jamaica nem Atenas. São Luís é a capital do Maranhão, um estado de
grande valor social, econômico, ecológico e político, para o Brasil. Se fosse
um país e tivesse um bom governo, o Maranhão seria um das nações mais ricas do
mundo. Devemos deixar de valorizar o que é de fora e olhar mais detidamente o
que realmente somos, um povo alegre, culturalmente rico e com recursos naturais variados,
combinando tudo com uma postura que não caia no bairrismo infantil.
BLOG: Você se
considera mais “jornalista” ou mais “ecologista”, ou algo assim, diante do
trabalho que desenvolve no dia-a-dia?
MM: Tenho orgulho da minha profissão, o jornalismo. Infelizmente, para
exercer a profissão, precisa-se das condições que atualmente não estão
disponíveis, como bom salário, segurança profissional e pessoal. Contudo, por
razões pessoais e profissionais, fiz uma volta às origens e agora não sou mais
guerrilheiro vermelho, mas um ativista das causas ecológicas, um propagador do
mundo ecológico possível. Ou seja, o jornalista está vivo, mas a batalha mudou
para a utopia, a esperança.
BLOG: Fale-nos de suas publicações. Como tem sido a aceitação do público? Teve
incentivo de empresas ou são publicações financiadas com fundo próprio?
MM: Sou autor de seis livros. Cinco foram bancados com recursos próprios.
Sou autor do livro de reportagem mais vendido nas bancas de revistas, Os outros
segredos do Maranhão (2002), que revela os descalabros administrativos do
governo da oligarquia local. Sou, portanto,
um escritor que vende livros.
Os livros Sítio Ecológico, um guia para salvar a terra, está com a
segunda edição quase esgotada, e Ecologia e Criatividade, que contou com o
apoio da Clara Comunicação, na pesquisa, e o SEBRAE, na impressão, estão sendo
vendidos também pela internet para gente de todas as regiões do Brasil, através
do blog www.panakui.wordpress.com.
BLOG: Muito obrigado por sua participação nesta série do nosso Blog!
MM: Agradeço e convido
os leitores para conhecerem o Sítio Panakuí. Recebemos para vivências, as quais podem ser agendadas pelo fone (98) 888
3372.
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