CUIDANDO DA VIDA FILOSOFICAMENTE
Em seu artigo A Época da Imagem do Mundo, Heidegger nos diz: “A Filosofia é reflexão. E reflexão é a coragem de tornar o axioma de nossas verdades e o âmbito de nossos fins em coisas que, sobretudo, são dignas de serem chamadas em questão”.
A Filosofia, então, nos faz rever nossas verdades, nossas crenças, nossos preconceitos, nossos valores e projetos. Isto é, ela nos faz pensar. Quando pensamos, transformamos nossas crenças e, consequentemente, transformamos nosso jeito de viver.
Terapia é uma palavra que quer dizer ‘assistir’, ‘cuidar’, ‘tratar’ ou ‘velar’ pelo ser. Este significado, que se mantém também em hebraico, indicava a atividade dos primeiros terapeutas. Intérpretes das Escrituras, eles tinham as questões espirituais como seu “objeto de cuidado”. O uso do termo terapia teve como primeira finalidade distinguir os cuidados espirituais, dos cuidados do corpo, realizados pela Medicina.
Na qualidade de intérpretes das Escrituras, os terapeutas eram vistos por Fílon de Alexandria como aqueles indivíduos dotados da ‘arte da interpretação’. Os terapeutas eram aqueles homens que queriam ‘ver com clareza’. Por isso mesmo, eles seriam, antes de tudo, hermeneutas, intérpretes do sentido.
O terapeuta cuida também de sua Ética, isto é, vigia sobre seu desejo, a fim de se ajustar ao fim que fixou para si; este ‘cuidado ético’ pode fazer dele um ser feliz, ‘são’ e simples (não dois, não dividido em si mesmo), isto é, um ‘sábio’ – um terapeuta não cura, ele cuida.
O objeto da terapia é diverso, pois tudo o que cabe no ser, alvo originário da terapia, é indefinível. Cabem as angústias, idiossincrasias, as loucuras, a Ética, os desejos, a felicidade, imagens, pensamentos, palavras. Nenhuma prática ou ciência, assim, detém a propriedade da terapia. Para Fílon de Alexandria, o terapeuta tem por propósito compreender com clareza o ser, interpretar seu sentido, empreender uma hermenêutica do ser. Ora, esse também é o propósito que instaura a Filosofia.
Não fazemos nada com a Filosofia – ela é que faz alguma coisa conosco. O pensar filosófico, portanto, tem uma maneira específica de agir. Ele nos mobiliza, nos provoca e convoca para a ação no mundo. São os pensamentos que promovem revoluções e toda transformação da história dos homens.
A Terapia Hari nasceu com essa perspectiva - ir além da simples cura das enfermidades físicas do ser humano - e com esse objetivo foi sistematizada e é praticada na vida cotidiana.
Ћ - Como vemos, uma terapia que não se baseia na Filosofia, ou seja, que não tem por objetivo primeiro e último cuidar do ser, não passa de uma técnica paliativa e sem resultados definitivos. Sua eficácia é momentânea e, enquanto dá alívio imediato aos efeitos, não se ocupa da causa ou causas e mascara o ‘mal’ (a enfermidade do ser) às custas de um corpo aliviado. A T.H* tem seu fundamento na Filosofia (tanto a ocidental, quanto a oriental) e, como uma verdadeira terapia, não ministra placebos nem produz milagres. Há um tempo para cada coisa debaixo do sol. Pense nisso!!!
* Fonte: O texto acima foi inspirado na entrevista da Professora e Filósofa Dulce Critelli, publicada na Revista Filosofia – Ciência & Vida Ano III Nº 31, e contém trechos adaptados dela.
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