EM BUSCA DE UM NOVO PARADIGMA
A
moral e as religiões, que não passam de acordos e/ou tratados comportamentais e
ritualísticos impostos a cada sociedade que os admite, são considerados até
hoje como os fomentadores e mantenedores da civilidade entre os homens, mas não
há como negar que ambas falharam em seu propósito, pois o que estamos
assistindo até os dias de hoje é uma selvagem luta de homens contra homens,
pelos motivos mais banais ou por questões ideológicas, econômicas, socioculturais
e até religiosas. O mundo que temos de encarar todos os dias é um mundo
perigoso e violento, repleto de rivalidades de toda espécie, do qual somos uma
vítima em potencial, sejamos culpados ou inocentes.
Ao
que parece, devemos lançar mão de uma nova proposta, um novo paradigma, que
pode até lembrar os princípios morais e religiosos, mas que, na verdade,
precisam ser fundamentados em novos valores e novas noções. De nada adiantará
um esforço por qualquer mudança para melhor, se não nos livrarmos de certos
valores e ideais que não valorizam o homem – só o escravizam mais. A moral que
pretenda se impor como uma lei sobre o homem deve antes de tudo saber “o que é
o homem”; deve promover a sua realização; deve primar por seus instintos nobres.
Uma religião que pretenda indicar um caminho espiritual para o homem deve,
sobretudo, conhecer a sua dimensão espiritual; jamais poderá impor a ele “leis
divinas”, pois qualquer suposto “Deus” nunca poderá ser conhecido ou reconhecido
de cima para baixo. Já não importa mais aquilo que impôs como tradição; já não
importam as palavras encontradas na “letra morta” das Escrituras Sagradas; já
não importa a autoridade do sacerdotes ou das Instituições Religiosas – tudo isso
falhou, e tornou-se urgente uma mudança radical de nossa visão sobre tais
coisas. Não sou eu quem diz “falhou”. Basta uma breve observação das coisas à
nossa volta, no nosso dia-a-dia, nas nossas relações, na família, no trabalho
etc. Tudo está em ruínas por toda parte, e nós não podemos apenas apontar os
possíveis culpados (que certamente somos nós mesmos), temos que buscar um novo
caminho, pois esse não nos levou a nada de positivo – ele está arrasando dia
após dia com nossas vidas, nossas relações, nossa potência.
Estamos
demasiadamente acostumados a este corpo que temos para renunciar um pouco a
ele. Isso não significa “negligenciá-lo”! Precisamos relembrar que ele é apenas
um veículo. Veículo de quem? Daquele que realmente somos, ora! E quem somos?
Bem, essa descoberta não pode ser feita apenas verbalmente, apenas intelectualmente,
apenas pelo peso de alguma autoridade, que nos dirá “nós somos isto ou aquilo”.
Todos concordamos que há em nós uma busca pela felicidade, pela Verdade, pela
auto-realização. Também devemos concordar que há no homem uma dimensão
espiritual, ou seja, algo intrínseco que o impulsiona a reconhecer que há
valores maiores do que todos os bens materiais que se possa conquistar, e que
também lhe dá uma certeza ou, pelo menos, um forte impressão de que ele é algo
mais sutil, porém, mais duradouro e maior do que o corpo. Infelizmente, só percebemos isso, com maior freqüência,
nas situações tristes ou adversas, como diante da morte de alguém que amamos.
Sua ausência se faz uma presença. Quando é alguém que nos conferia proteção e
afeto, como mãe ou pai, passamos o resto de nossas vidas com uma leve impressão
de que ela ou ele nos “vigia” e “cuida” de algum lugar invisível. De onde nos
vem tal impressão? Seria ela apenas um expressão do nosso medo, da nossa
angústia, da nossa fragilidade, da nossa condição de mortais?
O
que acontece ao homem, na morte, para que ele se torne apenas aquele corpo
inerte, rijo, isento de qualquer sensação ou vontade? O que havia nele,
enquanto vivo, que fazia circular o seu sangue, que mexia seus músculos, que o
fazia pensar, falar e agir com decisão e vontade? Ora, deve haver algo que dá
vigor ao corpo e o ponha em funcionamento mesmo ao dormir ou em estado de coma,
e esse “algo”, ao se retirar dele, o deixa inerte e sem vigor. É esse elemento,
essa entidade, essa força motriz que deve ser procurada. Talvez, alguns de
vocês pensem: “Ora, mas isso já sabemos há muito tempo o que é – trata-se da
nossa alma!”. Ao que eu perguntarei: “Mas quem descobriu isso? Fomos nós mesmos,
ou foi outro alguém que nos levou a aceitar essa suposta descoberta dele? Fica
claro agora que ninguém pode descobrir as coisas por nós – principalmente se
essa “coisa” diz respeito a nós. Ninguém pode chegar em nossa casa e dizer: “Olha
bem: isto é teu corpo e aquilo é tua alma!”. Seja lá quem for, essa pessoa não
tem tal autoridade e sua proposição é no mínimo suspeita. Portanto, devemos
abandonar todo o tipo de autoridade, seja moral ou religiosa, se somos sérios
no toicante a fazer nossa própria descoberta e assim encontrar um novo
paradigma para nossas vidas. Sim, porque, antes de fazer essa grande descoberta
(quem somos nós), continuaremos uma multidão de selvagens supostamente civilizados,
que se devoram mutuamente, dia após dia.
O
mundo atual é um verdadeiro caos, um lamaçal de intrigas, de rivalidades, de
competições insanas. A moral jamais poderá dar cabo disso e as religiões só têm
colaborado com mais intolerância e conflito. Não saber quem somos redunda em
não saber como lidar com essa nossa selvageria e assim, se não destruirmos em
breve toda a humanidade, perpetuaremos nossa guerra desumana ad infinitum.
Neste
ponto, alguns de vocês podem dizer: “Que tipo de proposta o senhor tem a nos
oferecer? Pois, se já não podemos mais seguir desta maneira, precisamos de uma
outra que a substitua!”. E eu direi: “Se eu der a vocês o novo paradigma,
estaremos incorrendo no mesmo antigo erro!” Notem que foi assim que se estabeleceram
a moral e a religião, e isso não queremos mais. Portanto, precisamos trilhar
esse caminho, essa busca, juntos – sem que qualquer de nós se imponha como
autoridade. É claro que podemos perceber algumas pistas que devem levar ao que
procuramos, mas devemos seguir lado a lado. É fácil ir numa certa direção, com
a sensação de segurança, quando há um guia, um líder; é fácil não ter a responsabilidade
de se perder, de se desguiar; enfim, é fácil ser “rebanho”. Mas isso já foi
feito – e não deu certo, nem jamais dará!
Talvez
eu já tenha feito algumas descobertas interessantes, as quais me dão certa
segurança no meu caminhar. Mas cada um deve estar disposto a fazer suas
próprias descobertas, encontrar certas pistas que assegurem que está no caminho
certo. A T.H. pode ser muito útil nessa busca. Pode ser útil para todos, porque
foi útil para mim. Mas cada um já deve trazer consigo certas noções, que não
podem ser aquelas caducas; certos valores, que não podem ser aqueles
ultrapassados. Não chamaremos isso de certezas ou convicções – chamaremos de “pistas”.
Como chegaremos a elas? Como eu disse lá no início desta dissertação,
primeiramente devemos deixar um pouco de lado esse nosso “culto à matéria”, ao
corpo, ao veículo das percepções existenciais. È preciso introspecção!
A
Meditação T.H. não é muito diferente daquela já tão conhecida de todos que se
interessam por assuntos espirituais, yoga e relaxamento. Mas ela tem, sim, sua
diferença. Ela tem etapas e não se limita a alguns minutos por dia. Ela tem o
seu momento de quietude e o seu momento de ação. Por isso é que a T.H. é uma
prática holística para o cotidiano. Mais ou menos como ensinado nas escolas
Zen, nossa meditação tem que imiscuir nos afazeres diários. No começo, haverá
dificuldades, porém, em breve, será tão simples quanto é para um adolescente “estudar
e ouvir música”. A prática trará facilidade; o domínio dela, a experiência.
Também
como disse mais em cima, o novo paradigma não pode ser imposto cima para baixo –
ele deve ser encontrado aqui, em nós, e jamais provir de uma autoridade
externa, não importa qual seja ela. O novo paradigma é um desafio nosso e,
quando encontrado, será uma conquista nossa. Ninguém mais nos dirá “somente de
mim vem a salvação”; nenhum Avatar, nem o mais excelso deles. Primeiramente
porque não estamos em busca de qualquer salvação (isso foi uma noção que nos
foi imposta e um valor já ultrapassado); em segundo lugar, porque já sabemos
que encontrar a Verdade é muito mais valoroso do que recebê-la das mãos de outrem.