quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

A E.N.D. E A FÍSICA QUÂNTICA

A E.N.D E A FÍSICA QUÂNTICA



O Universo sempre intrigou o homem. Não só em seus aspectos externos, visíveis, embora fantásticos e deslumbrantes, mas também em seu mecanismo mais íntimo, interno e aparentemente secreto. Isso mesmo! – sempre houve no ser humano um fascínio pelos mistérios. No entanto, essa obstinação em “conhecer o desconhecido” e se apoderar de seus segredos e de sua exuberância levou o homem a desenvolver ciências, formas de conhecer, cada vez mais sofisticadas e precisas. Assim, ao longo da História da Humanidade, dentre as muitas ciências criadas de lá para cá, a Física evoluiu significativamente, recebendo certos rótulos, conforme sua época, objetivo e modus operandi, como por exemplo, Física Clássica ou Quântica. A Física Quântica, embora mais recente e mais sofisticada do que a Clássica, não pode prescindir desta nem das demais, uma vez que cada uma delas foi (ou ainda é) um dos “degraus” de que se utilizou para chegar aonde chegou. Porém, sem contradito, a Física Quântica é, até o presente momento, a excelência na forma de conhecer e observar tudo o que o Universo nos revela sem restrições, tanto quanto aquilo que ele parece “querer esconder” de nós.
Ramana Maharshi

Com a Física Quântica o homem, apesar de avançar consideravelmente em conhecimento, curiosamente também retorna ao velho conceito de Natureza/Universo dos antigos gregos – Physis; além de também ir em direção às noções encontradas nas antigas tradições religiosas, como as do hinduísmo e do budismo, por exemplo. O sábio indiano Ramana Maharshi declarou que o caminho da Iluminação pode ser encontrado na resposta para a pergunta “Quem sou eu?”, e o físico americano Niels Bohr ocupou-se com a pergunta “como é possível a um elétron ir de A a B sem jamais passar entre esses dois pontos?”. Questões que parecem nada ter a ver em comum, até porque originam-se de tradições diferentes, uma oriental, a outra ocidental, uma espiritual, a outra científica, na verdade, por assim dizer, esbarram nos corredores da Física Quântica, tanto quanto nas esquinas de Nova Délhi ou de Nova York. 

Niels Bohr
sumérios
Os sumérios, a mais antiga civilização de que se tem notícia (aproximadamente 3.800 a.C.) consideravam iguais os esforços de compreender tanto o mundo externo, físico, quanto o mundo interno, espiritual. Agora, como se fosse uma nova espécie de “metafísica” – só que de cientistas sérios e não de filósofos sonhadores – a Física Quântica explora e ousa tecer considerações cada vez mais precisas e plausíveis sobre o que é a consciência, onde ela se localiza, como age e até que ponto cria ou ajuda a construir o que chamamos de realidade; o que é o homem, se tem uma essência transcendental ou é apenas uma “máquina com personalidade”, se tem domínio sobre sua vontade e seu destino ou está meramente sujeito às forças exteriores da Existência que, como marionetes, executam o necessário exigido por ela e não o que é realmente seu desejo e sua necessidade particular.

o domínio da ciência
Como vemos, o papel da Física Quântica é ousado e bastante amplo, além de incerto e desafiador. Homens sérios, como já disse, não medem esforços para ir cada vez mais longe nessa espécie de conhecimento e não hesitam em afirmar coisas que a muitos ouvidos e mentes soam como improváveis e até absurdas, mas que provocam em outros um incrível sentimento de aceitação e compreensão capaz de realizar verdadeiros “milagres” em suas vidas, quando aplicados com determinação e fervor, de tal maneira que toda a comunidade científica se rende extasiada a essas novíssimas verdades, quando, outrora, seria reação comum rechaçá-las sem aviso prévio ou delongas.
Papa Francisco

Não só a Religião tem seus “dogmas”, a Ciência também os tem. E que ninguém se engane – é tão difícil superar aqueles quanto estes. Felizmente, a existência humana não é feita só de teimosos e covardes, embotados e submissos; ela também é composta de homens obstinados e corajosos, de mentes abertas e de espíritos livres. E são exatamente estes que fazem a diferença quando fazemos a conta dos prós e contras da vida. Embora, na Era Medieval, ser cientista ou filósofo valia a alcunha e o destino de bruxo, segundo os inescrupulosos critérios da Igreja, e muito embora, no século 17, o pensamento mecanicista de Descartes tenha dominado a comunidade científica, ainda assim excelsos exemplares humanos conseguiram romper essas “amarras” e envolver com sua aura aventureira outros homens que, percebendo a inevitável força e coerência de suas ideias, fizeram-se também arautos de novas verdades. Quando Isaac Newton associou dois eventos tão díspares quanto a queda de uma maçã e o movimento de um planeta, embora ainda entro dos liames da física mecanicista, ali mesmo ele estabeleceu não só a noção da lei da gravidade, como ficou conhecida, mas também de uma “força” gerada no seio do Universo, mantenedora de um equilíbrio real e necessário. A partir daí, mais importante do que saber “quem ditou ou criou tal lei” é descobrir como ela atua, de que forma ela foi ativada.

Isaac Newton
Termos como “força” e “energia” são muito usados nos compêndios e nos meios acadêmicos e científicos, mas também remontam aos ensinamentos dos antigos sábios do Oriente, ao se referirem aos fenômenos incomuns aos homens comuns, tão demasiadamente apegados ao que é palpável, visível e inquestionavelmente óbvio. Sem saber quem é o dono ou agente dessa força ou quem teria produzido tal energia, o homem comum, não encontrando na lógica, na razão, explicações para certos fenômenos, queda-se estupefato diante desses eventos inusitados e, desamparado, acaba por dar-lhes o nome de “milagres”. Pelo que se entende, a partir das explicações religiosas, milagres são intervenções divinas na trajetória normal da vida de uma pessoa em particular ou da existência, como um todo. Ou seja, Deus, ou um de seus interventores – anjos, santos, avatares e etc –, por sua graça ou por merecimento de uma pessoa ou mais, de tempos em tempos, intromete-se no curso natural da História do mundo e dos homens, seja para "corrigir" o que o desagrada, seja para atender as preces de uma pobre criatura sua.

Cristo sobre as águas
A E.N.D. – Energia Nervosa Dirigida –, expressão com a qual designo a força provinda de uma vontade humana objetiva de realizar algo, que pode muito bem ser comparada ao que chamamos, aqui no Ocidente, de “força de vontade”, e que, na tradição hindu, é denominada “sankalpa shakti” faz parte dos ensinamentos e práticas da Terapia Hari, sistematizada e desenvolvida também por mim. O princípio dessa força ou energia não é o Atman – nossa verdadeira identidade e essência –, e sim o Jiva, uma vez que é este que “deseja realizar algo”, por necessidade ou por capricho, pouco importa. No entanto, embora pareça paradoxal, essa energia tem sua origem no Atman, isto é, é nele que o Jiva (reidentificado, é claro) “se inspira” para “realizar” seu intento. Explicando de outra forma, é assim: Atman não tem caprichos ou necessidades, pois se os tivesse não seria “completo e perfeito”, mas Jiva os tem, pois luta na Existência por melhores condições. Depois de reidentificado (ciente de que sua essência é Atman e de que não passa de um “dublê” que recebeu uma personalidade, atributos e veículos existenciais), o Jiva pode lançar mão dessa energia, dirigindo-a para determinado alvo, bastando para tanto não estabelecer conflitos entre a realidade que e a realidade que deseja ver e jamais considerar os aparentes obstáculos, ainda que corroborados pela razão ou pela lógica, como sendo intransponíveis. É com essa energia que o Avatar  Jesus conseguiu, entre outras coisas, caminhar sobre as águas do mar e em certas passagens bíblicas lemos: “Buscai, pois, em primeiro lugar, o Seu Reino e a Sua Justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas” ( Mateus 6:33) e “As obras que eu faço, ele também fará; e as fará maiores do que essas” (João 1412). Deixando de lado as concepções religiosas, o que está dito aí é “Primeiro, é necessário reidentificar-se com Atman, e tudo será possível!”, ou ainda: “Aquilo que é possível ao Atman, só é conhecido quando o Jiva realiza!”. 
Andar sobre brasas

Essa relação entre o que a nossa razão vai chamar de “dois mundos” – o físico e o espiritual (que Platão denominou “mundo sensível” e “mundo das ideias”) –, fica cada dia mais plausível com os avanços da Física Quântica que, além de ter respaldo científico, ainda encontra ressonância nas grandes tradições antigas de várias civilizações, que em épocas remotas não contavam com instrumentos tecnológicos, como os de hoje, nem com avanços científicos, que só viriam séculos mais tarde, porém, participaram efetivamente dos eventos “reais” daqueles povos. Sabe-se que pessoas comuns são capazes de caminhar descalças sobre brasas sem sofrer qualquer queimadura nos pés, enquanto outras, que tentam fazer o mesmo, considerando que brasas queimam e que, portanto, correm o risco de se queimarem, inevitavelmente têm seus pés queimados gravemente.

Isaac Asimov
O que digo aqui de forma nenhuma deve levar o leitor a conclusões precipitadas de que “então, qualquer um pode bancar Deus!”, muito menos devem “os céticos de carteirinha” fazer pilhéria com meu nome ou com tais ideias que, em verdade, não são minhas, como demonstram os relatos que fiz até aqui. Antes, devem todos eles lembrar que ideias tidas como “loucas” ou “absurdas” no passado, hoje são aceitas não só nos meios científicos e acadêmicos, mas também na vida cotidiana, sendo ensinadas em qualquer escola de ensino fundamental. Exemplos simples disso são os “absurdos da ficção científica”, os delírios de Isaak Asimov e Júlio Verne, que desafiaram a Ciência e a Tecnologia, levando-as a tornarem aqueles artefatos e maquinários improváveis uma realidade. Se ainda há pessoas que não acreditam de forma alguma que o homem pisou na lua, também há aquelas que crêem e trabalham incessantemente para ver o homem conquistar outros planetas, como Marte, e lá habitar. O fato é que não há limites para as realizações humanas, a não ser aquelas que o próprio se impuser.
Júlio Verne

A E.N.D. é ensinada dentro da T.H. mas não está isolada dos demais ensinamentos. Ou seja, ninguém é capaz de grandes e inusitadas realizações apenas se reconhecendo como uma personalidade, um ego, um ser limitado e lógico ao extremo. Não é uma questão apenas de fé, em seu sentido religioso; é uma questão prioritariamente de compreensão e de paixão. Essa compreensão escapa à lógica e se utiliza da intuição (a sabedoria primeva, direta, imediata) e essa paixão é o amor incondicional, o comprometimento desmedido com a própria Vida – sem Deus ou deuses, sem intervenções divinas, sem mistérios intransponíveis, sem dogmas, culpas ou pecados...

Amit Goswami
Há muito trabalho a fazer antes de sair por aí “bancando ou brincando de Deus”. Evidentemente, a E.N.D. passa pela questão da “consciência” – ou melhor ainda, de “autoconsciência”. Não adianta ler todos os dias escrituras consideradas sagradas, repetir mantras mágicos a todo momento ou saber de cor versículos, como: “Pedi, e dar-se-vos-á; buscai, e achareis; batei, e abrir-se-vos-á (Mateus 7:8). Quem tem a consciência pequena de que é essa personalidade, esse ego, vai cansar de bater, mas nem por isso a porta se abrirá. Isso não tem nada a ver com ele ser merecedor ou não – ele simplesmente não é conhecedor, ele não conhece nem “compreende”. Amit Goswami declara: “E preciso ter vontade e paixão para ultrapassar a própria zona de conforto e superar a necessidade de ser como os outros. Contudo, fazer isso sem o conhecimento adequado é insanidade. Se for feito com o conhecimento adequado [...], é considerado genialidade”. Conquistar os processos, os elementos imbricados no domínio da prática da E.N.D. vai além de sentar-se de certo modo num local silencioso, ouvir uma música relaxante, queimar incensos e repetir palavras ou nomes considerados sagrados – é preciso um esforço mais sincero e objetivo e um conhecimento maior e exequível.

Quem quer ser um alucinado, alguém que acredita e vê acontecimentos que, para qualquer outra pessoa, pareceriam tão fora da realidade que provavelmente deixariam qualquer um maluco? Se você for um desses, então você é “um louco”... ou, então, é um praticante da Terapia Hari.







 



segunda-feira, 9 de setembro de 2013

PARA ONDE VÃO AS ORAÇÕES


A busca pelo conhecimento nunca é demais, pois só sabemos viver razoavelmente quando estamos no domínio das circunstâncias ou, pelo menos, podemos sobreviver a despeito delas. Nossa fragilidade diante de eventos naturais, ou aqueles considerados “sobrenaturais” (que, segundo se pensa, provêm de uma força ou vontade superior), nos põe em desvantagem com os processos complexos da vida, leis que desafiam nosso raciocínio e se configuram verdadeiros “mistérios”. Diante de situações adversas, muitas vezes, somos tomados pelo medo – medo do que poderá ser de nós a partir dali, medo do futuro, do desconhecido, medo do sofrimento e da morte.

            
Qualquer pessoa, diante de problemas aparentemente irremediáveis sob o aspecto do nosso conhecimento, das Ciências, da medicina e outras capacidades humanas, pode entrar em desespero e buscar uma solução por uma via alternativa, porém sem respaldo ou critério lógico. Além disso, há ainda os naturalmente religiosos, que se apegam a santos, orixás, deuses ou Deus, para se verem livres de todo tipo de adversidade, as suas e dos seus entes queridos, também. Aí, entram num processo de “vale-tudo” – mandingas, simpatias, passes, preces e o que mais puderem achar pelo caminho.

           
Dentre essas práticas, talvez a mais corriqueira e aceita seja a oração, que se baseia geralmente na crença de que dizendo palavras de súplica com humildade, fé e devoção, ou simplesmente emitindo pensamentos-pedidos, seres superiores serão sensibilizados a intervirem benevolamente em favor do suplicante ou daquele por quem se pede. Acreditam, os que assim fazem, que de algum lugar virá a resposta-solução, ainda que por uma via totalmente desconhecida, de forma surpreendentemente misteriosa, a que chamam de “milagre”.

           
Ora, considerando que no mundo deve haver um número incalculável de pessoas que se utilizam (ou já se utilizaram) desse recurso, a oração, seja por motivo religioso (ainda que muitas delas não se digam adeptas de qualquer religião), seja por mero desespero, pode-se supor  que desde tempos imemoriais já se orou ou rezou em favor de um sem-número de problemas, sendo também desconhecidas as vezes que é ou foi possível “provar” que tal artifício obteve êxito. Isso porque, para muita gente, a respostas às orações, embora estas, como já foi dito antes, não tenham qualquer base lógica, depende de alguns fatores: o merecimento, a vontade de Deus e a graça, por exemplo.

           
Bem, em minhas pesquisas em busca de elementos para fundamentar e sistematizar a T.H., que se pretende um sistema filosófico prático e viável, com ensinamentos e vivências que viabilizem a sabedoria e a razão como método e o resultado calculável como efeito objetivado, não encontrei qualquer evidência, mesmo levando em conta uma suposta base misticofilosófica (como proposta nas tradições orientais, por exemplo) de que a oração possa efetivamente ser tomada como um recurso sério e recomendável.


Ponho-me em oposição exatamente porque, uma vez considerada a lei cármica (e essa, sim, tenho em grande consideração) – a suprema lei de causa e efeito, fomentadora e mantenedora de toda a estrutura universal, existencial –, que é o próprio modus operandi da Existência, não consegui, nem consigo, perceber qualquer espaço em que a oração, como método ou via para um fim, possa se encaixar nesse sistema autorregulador, chamado Karma, já que qualquer modificação de sua lei seria uma intervenção desastrosa, em seu sentido macro, porque embora fosse (como desejam os mais crentes) um benefício a um ou a alguns indivíduos, promoveria inexoravelmente um desequilíbrio universal (ou seja, nos demais e em todos). Alguns podem argumentar que, sendo Deus o ser absoluto e supremo, a Ele nada é impossível (como é já um chavão dos crédulos religiosos), podendo Ele, e somente Ele, intervir na lei que Ele mesmo estabeleceu na Terra e em todo o Universo. No entanto, tal raciocínio destrói de pronto pelo menos duas “verdades” estabelecidas e aceitas por esses mesmos crentes – a de que “Deus é imutável, pois é o mesmo ontem, hoje e sempre” e a da “justiça divina”. No primeiro caso, Ele estaria se desmandando, o que pressupõe uma mudança de vontade e intenção; no segundo, Ele, como produtor de todas as causas, estaria assim anulando o que Ele próprio causou ao indivíduo em aflição, efeito de sua má conduta como filho ou criatura Sua.

No capítulo intitulado O Avatar e o Reinos dos Siddhis, do meu livro O Governante das Estrelas – Da Materialidade do Eterno, eu pergunto: “O que é, então, um ‘milagre’? Seria mesmo possível a efetivação de um evento de ordem sobrenatural? Há como se provar que as circunstâncias existenciais e as leis naturais possam permitir uma intervenção ‘de fora do mundo’ que produza o inusitado? Para dar respostas a estas perguntas é preciso conhecer as possibilidades que a Existência oferece ao ser humano, seja ele um homem comum ou um Avatar. Precisamos averiguar se há alguma chance de o ser humano ‘burlar’ o que ele próprio categorizou como ‘leis físicas’.”
            
Indo um pouco mais à frente, se algum religioso me confrontar com indagações sobre supostos milagres (por favor, que não sejam relatos bíblicos, pois estes necessitam muito mais de evidências e provas fidedignas do que de sentimentalismo e emotividade baratos), então direi sem pestanejar que, considerando tais fatos como “incomuns” (mas jamais fora da lei), eles nada mais são do que resgates cármicos (débitos e créditos), que se encontram, apesar de inusitados, dentro das condições de possibilidades existenciais. Como exemplo, darei o seguinte: suponhamos que uma pessoa no passado, nesta vida ou noutra, pouco importa, tenha causado o bem a outra, mas agora se encontre vitimada pela má-sorte, diante da qual não encontra forças ou recursos para superar, então, recorre à oração, como última saída para seu mal. Embora dirija sua súplica para Deus ou para entes que ela considera superiores, sua prece poderá, sem distorções causais ou mistério, chegar àquela pessoa (agora já desencarnada), a quem outrora favoreceu com seu bem em hora de desgraça, e esta, por via da própria lei cármica, se sentirá atraída para ela, de tal forma a lançar mão de forças invisíveis para auxiliá-la. Levando em conta que fora favorecida no passado, assim, utilizando-se de suas faculdades sutis, imateriais, terá condições cármicas justas de também promover um bem em troca ou restituição, sem que isso seja uma violação da lei ou um milagre, como se poderia supor.

            Se, ainda assim, algum religioso crédulo em milagres insistir comigo que então a oração foi ouvida e atendida, direi categoricamente que “sim”, porém, não como se supõe, por intermédio e intervenção de um ser, superior ou meramente violador de leis, mas por um ser da Existência (embora desencarnado), que apenas cumpriu a Lei (de causa e efeito).

A crença em milagres e, por conseguinte, na oração, entre os cristão, respalda-se consubstancialmente no que diz a Bíblia sobre os feitos e as pregações de Jesus Cristo. Em Marcos, 11, 21-25, por exemplo, lê-se: “Olha, mestre, como secou a figueira que amaldiçoaste!”. Respondeu-lhes Jesus: Todo o que disser a este monte: Levanta-te e lança-te ao mar, se ele não duvidar em seu coração, mas acreditar que sucederá tudo o que disser, ele obterá esse milagre. Por isso, vos digo: Tudo o que pedirdes na oração, crede que o tendes recebido, e ser-vos-á dado. Mas, quando vos puserdes de pé para orar, perdoai, se tiverdes algum ressentimento contra alguém, para que também vosso Pai , que está nos céus vos perdoe os vossos pecados”. Ora, a mim parece óbvio, mas, como é comum a todo crente, seu entendimento de uma passagem bíblica (ou de outro qualquer livro a que chame de “sagrado”) corresponde aos anseios do seu coração e nunca aos critérios de sua racionalidade. Os cristãos poderiam prestar um pouco mais de atenção às últimas palavras dessa passagem, em vez de às primeiras. Quando o Cristo exorta-os a antes perdoar para que, só então, recebam o beneplácito, ali mesmo está a “consumação da lei de causa e efeito” – ou seja, perdoando quem os ofendeu, abre-se assim um canal que viabiliza um bem que é pretendido, um crédito que adentra o karma particular e concede a bênção. Além disso, sendo Jesus um Avatar, está acima das leis físicas, assim como possui uma quantidade imensa de karma positivo, que ele usa sempre que necessário, não para honra e glória de “seu Pai”, como é dito e entendido ipsis litteris, mas para o cumprimento da Lei Suprema, o Karma. Quem melhor pode nos explicar isso é o Dr. Deepak Chopra, ao sentenciar: “Uma mudança na percepção não exige força. Uma pessoa que atingiu o nível de consciência onde os siddhis são naturais pode realizar mudanças com a facilidade que eu ou você encontramos em nossos sonhos, não empregando mais energia do que a necessária para ter um pensamento. O princípio básico é que a realidade é diferente em diferentes estados de consciência. Se vejo uma árvore num sonho, posso saltar sobre ela, fazê-la mudar de cor ou voar pelos céus com ela na mão. O que me confere mais poderes é o estado onírico. Se eu não tivesse outro estado de consciência com o qual compará-lo, o estado onírico constituiria a única realidade que conheço e aceito como válida”. O Cristo, ou seja, o Avatar está em outro nível de consciência, e isso facilita a sua percepção real das coisas e sua atuação sobre essa “ilusão” (Maya), a qual chamamos de realidade.

Bem, o presente artigo, em hipótese nenhuma, tem a pretensão de esgotar ou encerrar a discussão sobre o tema – a oração –, senão abrir espaço para uma nova concepção de verdade, lançando uma nova luz sobre ele. Antes de terminar, porém, devo dizer que não apenas creio nessa “verdade” e nessa “luz”, mas também as realizo, as enxergo no meu dia-a-dia, na lei que me dá vida e a perpetua de encarnação em encarnação, e não temo acrescentar que, um dia, os praticantes desse recurso da fé encontrarão todas as suas orações numa espécie de “lixão do Universo” e verão, sobrevoando sobre ele, centenas de “pássaros brancos” (seres alados agourentos), os quais quase não reconhecerão, por se parecerem apenas um pouco mais suportáveis do que os conhecidos urubus da Terra e um pouco menos belos do que os supostos anjos do céu. 

terça-feira, 27 de agosto de 2013

NOVA CONQUISTA COM BERGSON

A INTUIÇÃO DO PROF. JAYA

Constantemente dizemos aqui que o trabalho do nosso fundador, Prof. Jaya Hari Das, como articulista, está sempre em sintonia com os estudos e a própria filosofia deste Movimento. Isso mais uma vez se comprova, ao termos a satisfação de ver que ele emplacou mais uma vez com um artigo que é capa de uma revista nacional de Filosofia. Trata-se do artigo "A intuição de Bergson", publicado na Conhecimento Prático - Filosofia Nº43, da Editora Escala.

Segundo o professor, depois de ter travado conhecimento com a filosofia bergsoniana, ele não pode deixar de ver nela algo "provocantemente" interessante. Mais precisamente sua noção de tempo e a maneira como o filósofo francês nos apresenta a faculdade da "intuição".

O Prof. Jaya diz ter visto ali elementos importantes e coincidentes com as noções, que ele próprio já tinha quando começou a sistematizar a Terapia Hari, utilizadas na prática pela T.H.


No artigo, nosso diretor/fundador, ousa (como sempre o faz) resgatar ou reportar essa intuição bergsoniana aos antigos pensadores gregos (os protocientistas, como os chamou),  ele sugere que, já em Tales de Mileto, a construção da proposição "a origem de todas as coisas é a água", foi fruto dessa intuição, que em Bergson é considerada "a apreensão imediata da realidade por coincidência com o objeto", ou seja, chegar à realidade sem análise ou tradução.

Em nossos trabalhos com a T.H., somos constantemente desafiados a entender o que se passa com o nosso paciente, quando ele próprio desconhece a causa (ou causas) do seu problema, e mais - quando ele mal sabe explicar qual é o seu problema ou como ele o incomoda. Aí, só nos resta contar com essa faculdade humana, que infelizmente foi aos poucos relegada a segundo plano diante da valorização exacerbada da "razão", encontrando através dela a resposta que está diante de nossos olhos (no quadro real, apresentado pelo paciente), porém, que é fugidio à nossa apreensão racional.

É por essas e outras que reiteramos aqui nossas saudações ao Prof. Jaya, parabenizando-o por mais essa conquista e por seu incessante esforço em levar mais longe a nossa filosofia. 

domingo, 26 de maio de 2013

ENTREVISTA COM MOISÉS MATIAS

ENTREVISTAS DO MOFICUSHINTH


Nossa entrevista de hoje é com Moisés Matias. Fotógrafo, pesquisador, poeta e jornalista, graduado pela Universidade Federal do Maranhão - UFMA. Moisés, desde 2002, é também, e principalmente, um ecologista, levando em frente um projeto ímpar aqui no Maranhão no seu sítio Panakuí, onde recebe visitantes, ministra seus cursos e desenvolve sua "ecologia intuitiva", como ele próprio costuma chamar.
Nesta oportunidade, vamos falar principalmente desse trabalho pioneiro no Panakuí, mas também sobre política, cultura e ecologia, é claro  

BLOG:  Quando começou seu interesse por essa questão ecológica, sustentável, e como foi isso?
MM: Sou ecológico desde a origem. Nasci no meio da Amazônia, na fronteira com o Peru, em Tarauacá, no Acre, bem distante da cidade mais próxima. Saí de lá aos 03 anos, mas os registros da origem estão na minha essência. Cheguei ao Maranhão em 1987, para estudar jornalismo (UFMA). Logo me envolvi com o jornalismo ecológico, com a criação do jornal Folha de Gaia, ao lado de amigos como Paulo Melo Souza. Como jornalista e fotógrafo, percorri o Maranhão e vi uma terra generosa e farta, mas com uma desigualdade social absurda. Comecei então a escrever sobre os temas ecológicos, mas ao mesmo tempo pensava como poderia contribuir, de forma mais decisiva, para a mudança do quadro. Escrevi livros, matérias e participei ativamente do debate da política ecológica, no Maranhão. Mas em 2002 eu comecei a fazer o laboratório de ecologia intuitiva, o Sítio Panakuí, um projeto que prova que o Maranhão é muito rico, apesar de socialmente injusto. É nesta fortaleza, o Panakuí, que eu me posiciono como jornalista e ecologista, recebo pessoas para os cursos que ministro, criando e trabalhando na formação da rede de sítios ecológicos.

BLOG: Você tem encontrado apoio nas instâncias governamentais e em outros setores da sociedade? Quais?
MM: Desde o início, o Sítio Panakuí foi uma iniciativa solitária, feita com muito esforço. O tema ecologia nunca foi prioridade, no Maranhão. Há até debates e discussões, mas a ação concreta é algo distante. Assim, busco parcerias, mas conto mesmo é com a venda dos livros Sítio ecológico, um guia para salvar a terra, e Ecologia e Criatividade, com as palestras, os cursos e a vivências que realizo no Sítio Panakuí.
Estamos agora implantando um dos maiores negócios ecológicos do Maranhão. Até 2014, nós esperamos contar com um sítio ecológico parceiro em cada um dos 217 municípios, assim como estamos apresentando as propostas Rede de sítios ecológicos, Escola sítio ecológico e a campanha Resíduo orgânico zero, às administrações municipais, às organizações públicas e às empresas.

BLOG:  O projeto que você desenvolveu no Sítio Panakuí se espelhou em algum modelo em especial, ou tem autoria própria?
MM: O Sítio Panakuí é o resultado de 25 anos de estudos e pesquisas na área ecológica. Tem a sua originalidade, é uma fórmula que valoriza a cultura tradicional e os recursos naturais, gerando uma química explosiva que ativa a Felicidade Interna Bruta (FIB), o indicador alternativo que, entre outros ingredientes, considera a felicidade como riqueza. Tem muito do autor, mas faz uma releitura da Permacultura, da Agroecologia, firmando-se principalmente no acervo da cultura tradicional.
Construído de forma ousada e pioneira, o Sítio Panakuí é hoje uma das melhores sínteses ecológicas do Maranhão e até do Brasil. Lá nós conseguimos mostrar que é possível melhorar a vida das pessoas em um tempo relativamente curto, fazendo a ecologia, preservando os recursos naturais.

BLOG: Seu projeto já foi “imitado” por algum outro proprietário de sítio ou fazenda aqui no Maranhão?
MM: O Sítio Ecológico já existe aos milhares, no Maranhão. É uma categoria existente na cultura regional, mas é invisível e não valorizado. Aqueles que o fazem, as famílias que vivem no campo, ou na cidade, tentando viver em paz com a natureza, são consideradas atrasadas. Na verdade, elas preservam o modelo alternativo de sociedade, mostrando o caminho para a preservação da vida no planetinha terra. Com o Sítio Panakuí, nós apresentamos uma perspectiva promissora para as famílias que assim vivem, para a sociedade como um todo. Sim, podemos e devemos viver ecologicamente, produzindo os nossos alimentos e preservando a vida na terra.

BLOG: Como você vê a consciência das pessoas sobre a questão ecológica, sobretudo no tema “sustentabilidade”, aqui no Maranhão?
MM: A consciência ecológica é uma herança que vem dos ancestrais, dos povos que viveram milhares de anos em harmonia, em equilíbrio com a natureza. Como o povo maranhense tem raízes muito fortes na cultura negra africana, nas tradições indígenas, há um potencial ecológico muito grande na cultura tradicional, mas que está sufocado pelo modelo dominante, que é urbanizante e marcado pela racionalidade tecnicista. Com o método Sítio ecológico intuitivo nós procuramos mostrar como as pessoas podem desbloquear o seu “eu ecológico” e, assim, avançar em um conceito com saúde e qualidade de vida.

BLOG: Alguma universidade apóia, incentiva ou reconhece o seu trabalho no sítio Panakuí?
MM: Infelizmente as universidades são as propagadoras do modelo racionalista e se colocam como as únicas detentoras do saber e produtoras do conhecimento. As nossas instituições de ensino têm uma grande dívida com a nossa história. Elas são reprodutoras de conhecimentos gerados em outras paragens, principalmente no continente europeu, nas nações consideradas ricas, como os E.U.A.
Os conteúdos diferenciados que apresentam saem sempre como algo marginal e alternativo. O foco delas é a reprodução do modelo vigente. Aí temos uma luta desigual, mas que cresce a cada dia. Em todos os cursos surgem professores e alunos defendendo as mudanças para o paradigma alternativo e ecológico, sinal de uma grande mudança está em curso. Mas as instituições universitárias possuem um núcleo duro que resiste às mudanças. Como exemplo, cito que nenhuma instituição universitária faz o dever de casa, como a coleta seletiva, o tratamento do resíduo orgânico, o tratamento do esgoto ou mesmo a coleta da água da chuva. 
Esperamos contar com as instituições de ensino como parceiras, mas não estamos parados. Para propagar o modelo sustentável, estamos criando a Universidade Livre Panakuí, um espaço para a valorização do conhecimento dos sábios e sábias do Maranhão. Inicialmente ela funcionará no Sítio Panakuí, com os três cursos que ministro de forma intensiva, na metodologia da imersão, mas em breve a Universidade Livre estará espalhada por todas as regiões do Maranhão e do país, como mais um departamento dos sítios ecológicos, mobilizando e melhorando a vida de milhares de sábios e sábias da cultura tradicional.

BLOG:  No campo político. Em sua opinião, a cidade de São Luís verá alguma diferença significativa entre a administração do ex-prefeito João Castelo e a do atual, Edvaldo Holanda Jr.?
MM: A administração João Castelo foi um desastre. Não há como estabelecer uma comparação. Trata-se de um gestor envelhecido que não procurou se atualizar e que será esquecido por seus equívocos e escolhas equivocadas, para dizer o mínimo. Já Edivaldo Holanda vem com o fator juventude e espero que faça justiça a isto. Ainda está no início e precisa fazer muito para ser uma referência administrativa na questão ecológica. Vejo como vantagem o fato dele estar ao lado do Flávio Dino, um postulante ao Governo do Maranhão que carrega a nossa esperança na construção de uma estado solidário e ecológico. Tenho vários amigos, pessoas que confio, no governo Edvaldo Holanda. Ele será melhor que o anterior, mas seu governo precisa ser realmente de transformação cultural. É preciso fazer a revolução ecológica, e o Sítio Panakuí, que está no território de São Luís, é um aliado importante. Esperamos em breve receber a visita técnica do Prefeito de São Luís, juntamente com sua equipe, onde deverá conhecer as tecnologias e os processos desenvolvidos no local, uma área de 03 há, mas que podem ser replicadas em todo o município.

BLOG:  No campo cultural. Você acha importante a discussão velada entre as classes populares e a classe intelectual em “rotular” São Luís como “Jamaica Brasileira” ou “Atenas Maranhense”, respectivamente?
MM: Nem Jamaica nem Atenas. São Luís é a capital do Maranhão, um estado de grande valor social, econômico, ecológico e político, para o Brasil. Se fosse um país e tivesse um bom governo, o Maranhão seria um das nações mais ricas do mundo. Devemos deixar de valorizar o que é de fora e olhar mais detidamente o que realmente somos, um povo alegre, culturalmente  rico e com recursos naturais variados, combinando tudo com uma postura que não caia no bairrismo infantil.

BLOG: Você se considera mais “jornalista” ou mais “ecologista”, ou algo assim, diante do trabalho que desenvolve no dia-a-dia?
MM: Tenho orgulho da minha profissão, o jornalismo. Infelizmente, para exercer a profissão, precisa-se das condições que atualmente não estão disponíveis, como bom salário, segurança profissional e pessoal. Contudo, por razões pessoais e profissionais, fiz uma volta às origens e agora não sou mais guerrilheiro vermelho, mas um ativista das causas ecológicas, um propagador do mundo ecológico possível. Ou seja, o jornalista está vivo, mas a batalha mudou para a utopia, a esperança.

BLOG:  Fale-nos de suas publicações. Como tem sido a aceitação do público? Teve incentivo de empresas ou são publicações financiadas com fundo próprio?
MM: Sou autor de seis livros. Cinco foram bancados com recursos próprios. Sou autor do livro de reportagem mais vendido nas bancas de revistas, Os outros segredos do Maranhão (2002), que revela os descalabros administrativos do governo da oligarquia local. Sou, portanto, um escritor que vende livros.
Os livros Sítio Ecológico, um guia para salvar a terra, está com a segunda edição quase esgotada, e Ecologia e Criatividade, que contou com o apoio da Clara Comunicação, na pesquisa, e o SEBRAE, na impressão, estão sendo vendidos também pela internet para gente de todas as regiões do Brasil, através do blog www.panakui.wordpress.com.

BLOG: Muito obrigado por sua participação nesta série do nosso Blog! 
MM: Agradeço e convido os leitores para conhecerem o Sítio Panakuí. Recebemos para vivências, as quais podem ser agendadas pelo fone (98) 888 3372.

domingo, 12 de maio de 2013

ENTREVISTA COM ELOY MELONIO


ENTREVISTAS DO MOFICUSHINTH


Nosso entrevistado deste domingo é Eloy Melonio. Eloy é professor de inglês, formado pela Faculdade Atenas Maranhense (FAMA), empresário no ramo da educação, proprietário e diretor do YES – Centro de Ensino de Línguas Estrangeiras. Como presidente da organização binacional Companheiros das Américas (1990-1991), representou por duas vezes seu comitê em eventos nos Estados Unidos. Prof. Eloy também é escritor, poeta e compositor, tendo publicado dois livros de cunho religioso, A Verdade que Liberta e Os Dois Lados da Cruz, e está prestes a lançar seu primeiro livro de poesia, Poemas e Outros Escritos. A série Your English Series, composta de seis livros dos cursos básico, intermediário e avançado são também de sua autoria. Eloy Melonio pretende lançar, ainda este ano, seu primeiro CD autoral, Minhas Canções, composto de doze músicas, algumas em parceria com outros compositores.
Tendo aceitado o nosso convite, o Prof. Eloy Melonio se dispôs gentilmente a responder as seguintes perguntas para o Blog do MOFICUSHINTH:  

BLOG: Qual é o papel da Língua Inglesa no mundo atual?
EM: O mundo chegou a um ponto em que a comunicação desempenha papel preponderante, especialmente quando se trata de negociações, sejam elas de cunho político, cultural ou comercial. Não se pode mais pensar um mundo globalizado com várias línguas, como se fosse uma Babel. Nessa alegoria bíblica, vê-se o caos causado por Deus para confundir as pessoas e destruir um projeto comunitário. Nesse aspecto, o mundo de hoje é bem mais viável devido a possibilidade de se trocar informações, o que só foi possível com o aparecimento daquilo que eu chamo “terceira via”, ou seja, uma língua internacional. Nesse cenário entram, não apenas o inglês, mas especialmente o espanhol e o francês.

BLOG: Quem mais procura um curso de inglês, jovens ou adultos?
EM: Hoje em dia todos sentem a necessidade de aprender inglês, mas eu diria que, neste momento, devido a uma série de fatores, entre eles a possibilidade de estudar no exterior, através de programas federais (Ciência sem Fronteiras, por exemplo), jovens adultos, especialmente os universitários e os recém-formados, formam o grupo mais significativo.

BLOG: Os eventos esportivos dos quais o Brasil será sede têm ajudado a alavancar a procura pelo Inglês?
EM: As notícias nos jornais e na televisão nos mostram que a demanda por inglês alcançou níveis nunca antes pensados devido aos dois grandes eventos esportivos que o Brasil vai sediar. Algumas editoras elaboraram livros específicos abordando assuntos ligados a esses eventos, como saúde, hotelaria, viagens. Escolas especializadas oferecem cursos direcionados a atender essa necessidade, e algumas prefeituras têm organizado cursos para taxistas e pessoas que atendem ao público estrangeiro em visita ao país. E, nessa área, como já foi provado, o Brasil ainda é carente de gente habilitada para se comunicar em inglês.

BLOG: O Mercosul foi capaz de aumentar o interesse dos brasileiros pelo Espanhol?
EM: Houve, no início desse organismo, uma corrida para se estudar espanhol, achando-se que essa língua ganharia destaque no Brasil, especialmente porque nossos vizinhos falam espanhol. Não foi o que aconteceu. É claro que o espanhol ganhou destaque e tornou-se a segunda língua estrangeira mais estudada no Brasil. O mesmo ocorre hoje com o mandarim, esperando-se que a China desbanque os Estados Unidos nas próximas décadas. E também já aconteceu com o japonês na década de 1970, quando o Japão ganhou mercado internacional com seus produtos de altíssima qualidade. O inglês mantém sua hegemonia como língua estrangeira mais falada no mundo.

BLOG: Como o sr. vê a situação dos Estados Unidos hoje no mundo (culturalmente)?
EM: Mesmo com concorrentes de peso, como Canadá, Austrália, Reino Unido, África do Sul, os Estados Unidos continuam em primeiro lugar na preferência daqueles que querem estudar inglês, viajar de férias ou fazer um curso superior. As embaixadas não dão conta de emitir tantos vistos diariamente, e as reclamações das pessoas sobre a dificuldade de entrar nesse país ecoam por todos os lados.

BLOG: Os estudantes relacionam a Língua Inglesa mais aos Estados Unidos ou ao Reino Unido? Por quê?
EM: A cultura americana espalhou-se pelo mundo através de suas poderosíssimas indústrias musical e cinematográfica. Por isso, especialmente no Brasil, os estudantes associam o inglês mais a esse país norte-americano. Quem não conhece Michael Jackson, Madonna, Superman, Disney World, Tom Cruise? Os professores de inglês usam músicas e filmes em suas atividades lúdicas, e esses geralmente são produtos americanos. Os livros também acompanham essa tendência.

BLOG: Em sua opinião, o grau de dificuldade nas provas de língua inglesa, no ENEM e outros vestibulares, para estudantes que nunca fizeram um curso de inglês é significativo diante dos que já fizeram ou fazem?
EM: O novo formato das provas do Enem, em relação aos vestibulares tradicionais, foi bem assimilado pelos estudantes. Falo daqueles da escola particular, da qual conheço melhor a realidade. Isso porque se coadunam com a abordagem comunicativa, hoje em voga nos métodos de muitas escolas e nos livros das grandes editoras.

BLOG: Os programas de “Ensino a Distância” e a própria Internet têm favorecido o aprendizado da Língua Inglesa?
EM: Sim. Nunca foi tão estudar inglês. Ofertas de cursos online aparecem a todo instante na tela dos nossos computadores. E essas ofertas atendem às necessidades daqueles que não dispõem de tempo para fazer um curso convencional.

BLOG: Em sua opinião, São Luís está bem servida de cursos de idiomas ou a demanda ainda é pequena para tantas escolas?
EM: Desde que entrei no mundo do inglês, São Luís conta com escolas de idiomas de excelente qualidade. Nessa época, três escolas disputavam o já grande número de interessados: ICBEU, Yázigi e John Kennedy Center. Hoje, essa oferta chegou a uma situação onde – pode-se dizer – existe um curso de inglês nos principais bairros de São Luís. Antes, os alunos tinham de se deslocar ao centro para frequentar um curso.

BLOG: Fale um pouco sobre o método e os programas (intercâmbio, etc) do Curso YES.
EM: Nosso método prioriza a “comunicação”, uma habilidade mais ampla que apenas falar a língua. O “método funcional”, sedimentado pela abordagem comunicativa, propicia ao aluno a oportunidade de aprender o que é relevante para sua necessidade de se comunicar com naturalidade em inglês. Entendemos que “aprender uma língua é aprender a comunicar-se nessa língua”. A expressão “saber inglês” cede lugar para “comunicar-se em inglês”, mais apropriada às necessidades de nosso mundo. Quanto ao intercâmbio, temos parceria com a EF, maior empresa de intercâmbio cultural do mundo.

BLOG: Muitíssimo obrigado por sua participação aqui conosco!
EM: Eu é que agradeço a vocês pelo convite.

segunda-feira, 6 de maio de 2013

RELIGIÃO: UM MAL DE SÉCULOS


AMAR OU ODIAR EM NOME DE DEUS?

Este Movimento Filosófico combate contra todo tipo de religião institucional obscurantista, toda fé que causa cegueira e todo credo que promova o radicalismo que fere, mata ou obstrui o homem e seu pensamento criador. Por isso transcrevemos na íntegra o artigo publicado na revista Conhecimento Prático - Filosofia Nº23, de autoria de Francisco Júnior Damasceno Paiva, como um alerta e um depoimento fidedigno da malignidade propalada pela Religião, sobretudo o cristianismo, ao longo de séculos da História da humanidade.

ÓDIO EM NOME DE DEUS  

Ao longo da História, atribuímos o conceito de “religião dominante” ao cristianismo, judaísmo e islamismo pelo grau de influência e poder exercidos por essas religiões no mundo ocidental, e também no Oriente, da Antiguidade ao período contemporâneo. Além disso, estas religiões se encontram em vários elementos, como também em inúmeros episódios de intolerância, embora, muitas vezes, em situações opostas. Muitos pensadores e cientistas sofreram com o Viés obscurantista: de Galileu Galilei a Salman Rushdie, passando por Martinho Lutero, Dante, Nostradamus, Voltaire e tantos outros, a história se repete: Inquisição, Index, queima de livros, perseguição e morte em nome de Deus. Neste cenário, as oposições às pesquisas científicas e à liberdade de expressão parecem evidenciar, de certa forma, a dificuldade dessas religiões de coexistirem de forma positiva em uma sociedade aberta.

Viés obscurantista
A atitude obscurantista caracteriza- se pela não utilização da razão na busca de soluções para problemas humanos. Temos vários exemplos de obscurantismo, como a queima de livros no incêndio da biblioteca de Alexandria, tema de um dos carros alegóricos da escola de samba Unidos da Tijuca, no carnaval do Rio de Janeiro de 2010.

Embora a intolerância religiosa possa se manifestar em qualquer indivíduo, em qualquer religião, destacaremos aqui apenas essas grandes religiões ou religiões dominantes em que, historicamente, esse tipo de prática se apresenta de forma mais insidiosa e violenta. As consideradas pequenas religiões geralmente são mais vítimas que algozes.
Ao falarmos em um viés obscurantista, entendemos que tais religiões não são, em sua essência, obscurantistas, mas possuem ou desenvolvem certo obscurantismo em determinados contextos ou períodos históricos. Nessa história, a Igreja Católica tem um papel de destaque. Detendo-nos no Ocidente, que é o que nos interessa aqui, podemos pintar um quadro nada animador. A mídia geralmente dá destaque maior à intolerância no Oriente – especificamente o mundo árabe-muçulmano – de uma forma visivelmente ideológica. Eles são “fanáticos”, “irracionais” e “intolerantes”. Nós somos o “modelo do progresso e da razão”. Nada mais equivocado. Intolerância religiosa é a mesma aqui e em qualquer outro lugar do planeta. Igualmente inaceitável em qualquer pessoa ou instituição. E nesse assunto, nós, ocidentais, não somos nem modelo, nem mestres para povo algum.

Concordata
No dia 13 de novembro de 2008, o governo do Brasil e o Vaticano assinaram um acordo – denominado Concordata Brasil-Vaticano – cujos termos geraram revolta, pois a constituição do Brasil proíbe a consumação de aliança religiosa entre o Estado e organizações religiosas. Para muitos, o acerto foi uma demonstração de força política da Igreja Católica no Brasil.
Não vemos, no entanto, o mesmo empenho da mídia em informar a sociedade sobre a concordata assinada pelo governo brasileiro com o Vaticano.Concordata esta, aliás, aprovada no Congresso com o apoio da bancada evangélica. Esta matéria deveria ter passado por uma ampla e informativa discussão com a população. Outro assunto que merece debate é a retirada dos símbolos religiosos (crucifixos, santos, bíblias, etc.) das repartições públicas, já que, pela Constituição, o Estado brasileiro é laico. Os princípios que deveriam reger as relações entre as religiões e os Estados laicos já foram estabelecidos pelos iluministas e, antes, por John Locke, como veremos a seguir.

Estado Laico 
John Locke (1632-1704), filósofo empirista inglês e precursor do Iluminismo, escreveu, em um dos textos mais importantes sobre esse tema, a “Carta Acerca da Tolerância” (1689), que “não é a diversidade de opiniões (o que não pode ser evitado), mas a recusa de tolerância para com os que têm opinião diversa, o que se poderia admitir, que deu origem à maioria das disputas e guerras que se têm manifestado no mundo cristão por causa da religião” (LOCKE, 1978, p. 25).


Neste texto, Locke diz ainda que a intolerância é irracional e anticristã: “A tolerância para os defensores de opiniões opostas acerca de temas religiosos está tão de acordo com o evangelho e com a razão que parece monstruoso que os homens sejam cegos diante de uma luz tão clara” (LOCKE, 1978, p. 4).
Nesse livro, Locke distingue as funções do governo civil e da religião, defende a necessária separação entre Estado e religião e reflete sobre a intolerância. Com a separação entre governo civil e religião, Locke estabelece os princípios que devem reger esta relação e os deveres dos magistrados. Além disso, e o mais importante da carta, ele desenvolve também os princípios da tolerância. Sobre a jurisdição do magistrado, Locke estabelece que ela diz respeito somente aos bens civis e não pode ser de modo algum estendido à salvação das almas, pois: em primeiro lugar, “isso não lhe foi outorgado por Deus, porque não parece que Deus jamais tenha delegado autoridade a um homem sobre outro para induzir outros homens a aceitar sua religião” (LOCKE, 1978, p. 5). Locke diz também que o cuidado das almas não pode pertencer ao magistrado civil, porque seu poder é de natureza coercitiva, ao passo que a “religião verdadeira e salvadora consiste na persuasão interior do espírito” (LOCKE, 1978, p. 5). Por fim, mesmo se a autoridade das leis e da força das penalidades fossem capazes de converter, ainda assim isso em nada ajudaria para a salvação das almas; pois, pergunta Locke, “se houvesse apenas uma religião verdadeira, uma única via para o céu, que esperança haveria que a maioria dos homens a alcançasse, se os mortais fossem obrigados a ignorar os ditames de sua própria razão e consciência, e cegamente aceitarem as doutrinas impostas por seu príncipe, e cultuar Deus na maneira formulada pelas leis de seu país?” (LOCKE, 1978, p. 6).
Em seguida, Locke estabelece os quatro princípios da tolerância que deveriam ser seguidos por todos: indivíduos, igrejas, eclesiásticos e magistrados.
1) Nenhuma igreja é obrigada a manter no seu seio uma pessoa que transgrediu as leis dessa sociedade e, mesmo sendo admoestada, continua a fazê-lo.
2) Nenhum indivíduo deve atacar ou prejudicar outra pessoa nos seus bens civis, porque professa outra religião ou outra forma de culto. E o que vale para os indivíduos serve igualmente para as diferentes igrejas. Sendo as igrejas sociedades livres e voluntárias, elas devem coexistir com a comunidade e com as outras igrejas de forma pacífica e tolerante. Locke defende que o único castigo que compete à autoridade eclesiástica aplicar é a separação e a exclusão daquele que infringiu as leis de determinada igreja.
3) A responsabilidade dos eclesiásticos é maior: “Não é suficiente que os sacerdotes se abstenham da violência, da pilhagem, e de todos os modos de perseguição” (LOCKE, 1978, p. 9); eles são obrigados, enquanto clérigos, “a praticar a caridade, a humanidade e a tolerância. E a acalmar e moderar todo fervor e aversão do espírito que decorrem tanto do veemente zelo humano por sua própria religião e seita como da astúcia incitada de outros contra os dissidentes” (LOCKE, 1978, p. 10).
4) Pela separação entre governo e religião, os magistrados não podem proibir nem impor leis às religiões, desde que estas não estejam atacando os direitos e bens civis dos indivíduos. Segundo Locke, as crenças são de foro íntimo e por isso ninguém pode ser molestado por suas escolhas ou forçado a nada no campo da fé.
Resumindo, o pensamento de Locke sobre a tolerância e sobre a relação entre os Estados laicos e as religiões está baseado no respeito à individualidade das pessoas, à diversidade de opinião e na liberdade de expressão.


Voltaire e a tolerância
Qual a relação entre obscurantismo e intolerância religiosa? Apesar do termo obscurantismo ser contestado por estar ligado ao período iluminista, o adotaremos justamente para assinalarmos a contribuição dos iluministas para a humanidade. Por um lado, vai longe a ideia de que a humanidade caminha para um futuro promissor por meio do avanço da ciência e da técnica. Por outro lado, no entanto, o legado dos iluministas não pode ser totalmente esquecido, sem corrermos o risco de mergulharmos no obscurantismo, no autoritarismo e no irracionalismo.

Voltaire (1694-1778)
François-Marie Arouet, o Voltaire, é considerado um dos filósofos mais importantes do Iluminismo. É dele a frase que se tornou um dos lemas do movimento: “Não concordo com uma única palavra do que dizes, mas lutarei até a morte pelo teu direito de dizê-las”, que é também o fundamento da liberdade de expressão.
A contribuição dos iluministas para a humanidade é imensurável. O filósofo e escritor francês Voltaire (1694-1778) ícone iluminista, foi perseguido, teve seus livros condenados e escreveu belíssimas páginas sobre esse tema. Além do seu “Tratado sobre a Tolerância” (1762), ele abordou essa problemática também nas “Cartas Inglesas ou Cartas Filosóficas” (1734), em “O Túmulo do Fanatismo” (1736), no “Dicionário Filosófico” (1752) e em “O Filósofo Ignorante” (1766).
Para Voltaire a intolerância religiosa tem como principal fundamento a busca do poder, querer se impor como religião dominante, mas também as superstições e os preconceitos. “(...) É incontestável que os cristãos quisessem que a sua religião fosse a dominante. (...) A opinião deles era que toda a terra devia ser cristã, logo, tornaram-se necessariamente inimigos de toda a terra, até que a terra inteira se convertesse” (VOLTAIRE, 1978, p. 290). Visto que em matéria de religião não existe uma verdade absoluta, mas somente verdades relativas, Voltaire defende que o que garante a paz e a tolerância entre as pessoas é o respeito à diversidade de crenças e religiões: “Se entre nós houver duas religiões, hão de cortar-se o pescoço; se houver trinta, viverão em paz” (VOLTAIRE, 1978, p. 291).
No “Dicionário Filosófico”, no verbete “Tolerância”, Voltaire explica o que entende por tolerância. Ele pergunta: “O que é a tolerância?”, e responde: “É o apanágio da humanidade. Somos todos cheios de fraquezas e de erros; perdoemo-nos reciprocamente as nossas tolices, tal é a primeira lei da natureza” (VOLTAIRE, 1978, p. 290). E ele acrescenta: “Evidentemente que qualquer particular que persiga outro homem, seu irmão, porque não participa das suas opiniões, é um monstro” (VOLTAIRE, 1978, p. 291).
No “Tratado sobre a Tolerância”, escrito mais de setenta anos após a “Carta acerca da Tolerância”, de John Locke, Voltaire trata do caso Calas, um exemplo cruel de intolerância religiosa: Jean Calas, um comerciante calvinista, foi condenado à morte pela acusação de ter assassinado o próprio filho, que pretendia se converter ao catolicismo. Sem provas consistentes, a maioria católica da cidade de Toulouse insufla os juízes a condená-lo. Contra esse crime, Voltaire escreve o “Tratado sobre a Tolerância”, que é um libelo contra todos os crimes de intolerância. Nele, Voltaire escreve: “Não é preciso uma grande arte, uma eloquência rebuscada, para provar que os cristãos devem tolerar uns aos outros. Eu vou mais longe: eu vos digo que é preciso olhar todos os homens como os nossos irmãos. O quê!? Meu irmão, o turco? Meu irmão, o chinês? O judeu? O siamês? Sim, sem dúvida. Não somos todos filhos do mesmo pai e criaturas do mesmo Deus?” (VOLTAIRE, apud ROCHA, 2002, p. 42).
No “Dicionário Filosófico”, Voltaire fala nesse mesmo sentido, porém, é mais duro e incisivo com os que praticam a intolerância religiosa: “Insensatos que nunca haveis podido prestar um culto puro a Deus que vos criou! Desgraçados, que o exemplo dos noachidas, dos letrados chineses, dos parses e de todos os sábios nunca guiou! Monstros que tendes precisão de superstições como o bucho do corvo tem precisão de cadáveres! Já vos foi dito e nada mais há para vos dizer” (VOLTAIRE, 1978, p. 291).

A indignação diante das injustiças e a recusa em aceitar preconceitos e superstições como verdades levaram Voltaire a uma luta incansável e sem tréguas em defesa do homem, da razão e da liberdade; contra o fanatismo, a intolerância e as atrocidades cometidas em nome da fé.

Bertrand Russel e o cristianismoSobre esse caráter belicoso do cristianismo, o filósofo inglês, lógico, matemático e Prêmio Nobel de Literatura de 1950, Bertrand Russell (1872-1970), autor de “No que Acredito”, “Porque não sou Cristão” e “Ensaios Céticos”, escreveu em “Ética e Política na Sociedade Humana” (1977): “É um completo mistério para mim que haja pessoas aparentemente lúcidas que pensem que a fé no cristianismo possa evitar a guerra. Tais pessoas dão a impressão de serem totalmente incapazes de compreender a História. O Estado romano tornou-se cristão ao tempo de Constantino, e esteve continuamente em guerra até que deixou de existir. Os Estados cristãos que o sucederam continuaram a bater-se mutuamente, embora, deva-se confessar, vez por outra lutassem contra Estados que não eram cristãos. Do tempo de Constantino até hoje, jamais houve um vislumbre de evidência de que os Estados cristãos sejam menos belicosos que os demais. De fato, algumas das guerras mais ferozes foram devidas a conflitos entre diferentes tipos de cristianismo. Ninguém pode negar que Lutero e Loyola fossem cristãos; ninguém pode negar que suas diferenças estivessem ligadas a um longo período de guerras ferozes” (RUSSELL, 1977, p. 204).
Nesse mesmo texto, Russell, que era um pacifista, lembra-nos que o único político contrário à deflagração da Primeira Guerra Mundial foi o socialista Jean Jaurès; que não era cristão e foi assassinado com a conivência de quase todos os cristãos franceses.
Segundo Russell, a propaganda cristã inventou casos de intolerância dos maometanos, mas que são inteiramente falsos em relação aos primeiros séculos do Islã. Na verdade, nos primeiros confrontos entre cristãos e muçulmanos, os fanáticos eram os cristãos; e os muçulmanos levaram a melhor. Mesmo assim, ensinou-se a todo cristão o episódio do Califa que destruiu a biblioteca de Alexandria. Mas Russell nos lembra também que, de fato, essa biblioteca foi diversas vezes destruída e por diversas vezes reconstruída. Seu primeiro destruidor foi Júlio César, e o último foi antes do Profeta.
Portanto, nesse caso, não se trata de obscurantismo ou intolerância por parte do Islã. Os primeiros muçulmanos, diferente dos cristãos, toleravam aqueles a quem chamavam “o povo do livro”, desde que pagassem os tributos. Russell nos diz que, no início, o islamismo era conhecido por sua tolerância e isso contribuiu para as suas conquistas. Os cristãos, ao contrário, perseguiam os pagãos e quaisquer outras crenças. Em tempos mais recentes, a Espanha foi arruinada pelo ódio fanático aos judeus e mouros; assim como a França sofreu com a perseguição aos huguenotes. No século XVI, a Europa mergulhou em um mar de sangue, na guerra religiosa entre católicos e protestantes, que teve na França o episódio mais cruel: a terrível noite de São Bartolomeu, na qual os protestantes foram massacrados pelos católicos. No século XX, a perseguição abateu-se novamente sobre os judeus, culminando com o holocausto.

A Intolerância ao longo da História 
Quase dois séculos antes, Voltaire havia escrito: “(...) Todos perseguidos pelos seus correligionários, antes de Constantino e, mal Constantino faz reinar a religião cristã, logo se opõem os atanasianos e os eusebianos; desde essa época, a igreja cristã inunda-se de sangue até nossos dias” (VOLTAIRE, 1978, p. 290). E ele observa: “De todas as religiões, a cristã é, sem dúvida, a que deve inspirar mais tolerância, embora até aqui os cristãos tenham sido os mais intolerantes de todos os homens” (VOLTAIRE, 1978, p. 291).


Santa Inquisição
“O Tribunal da Inquisição foi um instrumento de terror, atraso e obscurantismo utilizado pela Igreja Católica contra todos que divergissem de sua doutrina (os ‘hereges’). Essas pessoas eram submetidas a interrogatórios, durante os quais eram torturadas até confessarem seus crimes (...). Os rituais do julgamento e a execução do réu eram em praça pública, perante toda população” (PILLETI, 1997, p. 41).

A posição de Voltaire parece exagerada? Vejamos então esta descrição de um desses conflitos no seio do próprio catolicismo: “Na época de Inocêncio III, ganhou força no sul da França uma seita conhecida como catarismo, que negava a autoridade do Papa e o chamava de filho do demônio. Inocêncio III respondeu com fúria ao desafio. Em 1209, convocou uma guerra santa contra a “seita maldita”: aldeias foram queimadas, multidões chacinadas. Para aniquilar o que sobrou do catarismo, Gregório IX, sucessor de Inocêncio III, criou em 1233 a Santa Inquisição tribunal de clérigos com o poder de acusar, julgar e condenar inimigos da igreja. Com o tempo, o Santo Ofício se espalhou por outros países e passou a perseguir não só cátaros, mas todos que discordassem dos dogmas católicos – judeus, cientistas, homossexuais. As sociedades cristãs se tornaram perseguidoras e teocráticas” (BOTELHO, 2007, p. 64).
Ciência no Vaticano 
Sabe-se que o Vaticano levanta-se contra descobertas ou teses científicas que ferem de alguma forma a doutrina do catolicismo. Mas não se pode acusar a Igreja Católica de estar completamente “por fora” do universo científico. A Pontifícia Academia das Ciências desenvolve pesquisas e edita livros. Vários físicos, geneticistas, matemáticos e químicos – alguns deles ganhadores do Nobel – foram nomeados pelo papa como membros ordinários ou honorários da Academia. Veja http://www.vatican. va/roman_curia/ pontifical_academies/ acdscien/ index.htm

Segundo Heinrich Heine (1797-1856)
O poeta alemão Heinrich Heine foi o criador da expressão “a religião é o ópio do povo”, utilizada depois por Marx. Heine foi perseguido em seu país e autoexilou-se na França. Na década de 1930 teve seus livros queimados por nazistas.
Segundo Heinrich Heine (1797-1856) a, aqueles que queimam livros acabam queimando homens. A história tem comprovado essa hipótese. No caso da perseguição ao poeta Salman Rushdie, encontra-se logo essas duas tentativas. Desde Platão, que expulsou os poetas da República, a poesia é considerada perigosa pelos regimes absolutistas. A oposição à liberdade de expressão foi sempre utilizada pelas religiões dominantes para proteger seus dogmas e defender seus interesses de poder e hegemonia: “O horror se disseminou com a perseguição promovida pelo Santo Ofício. Com a excomunhão de Martin Lutero, em 1520, a difusão de seus escritos foi proibida pela igreja. Em 1542, o papa Paulo III constituiu a Congregação da Inquisição. Seu sucessor, Paulo IV, criou o temido Index, a lista de livros proibidos. Na Espanha, a ascensão de Felipe II fortaleceu a censura católica. Também na França Carlos IX passou a destruir, pelo fogo, livros perigosos. A perseguição a astrólogos, alquimistas e poetas atingiu o profeta Nostradamus. Seu livro mais importante, “As Centúrias”, de 1555, tem sido sistematicamente destruído desde seu aparecimento” (CASTELLO, 2006, p. 34).
José Saramago
Autor de “O Evangelho segundo Jesus Cristo” (1991), o escritor português José Saramago também autoexilou- se na Espanha depois de sofrer perseguição no seu país devido a polêmicas políticas e religiosas causadas por seus livros.
A literatura, o cinema e o humor são vítimas de perseguições implacáveis: Dante, Zola, Nikos Kazantzakis, José Saramago ae tantos outros. José Saramago diz que é absurdo que as pessoas não compreendam que ao matarem em nome de Deus, estão transformando Deus em um assassino. De fato é isso o que ocorre; seja por meio de atitudes individuais de intolerância de uma pessoa de uma determinada religião, seja por meio da perseguição exercida por uma religião contra uma pessoa ou outra religião; Deus torna-se inquisidor, perseguidor e intolerante. As religiões “pintam” Deus à sua imagem e semelhança. Segundo Leandro Narloch, o atual papado entende que “o catolicismo é melhor que as outras religiões e só se pode atingir a verdade por ele” (NARLOCH, 2007, p. 28).
A oposição às pesquisas científicas e às novas descobertas é um traço característico do cristianismo. Foi mais forte no período do Renascimento e do Iluminismo, mas continuou durante toda a modernidade e está presente ainda hoje, embora sem muita força, no catolicismo romano. A Igreja Católica é contra as pesquisas com as células-tronco embrionárias. Essas pesquisas já têm ajudado a muitos pacientes e seu avanço contribuirá para o tratamento e a cura de milhares de pessoas que enfrentam graves problemas de saúde.


Da década de 1970 até o atual papado, a Igreja Católica tem optado por dar as costas ao mundo moderno: “Pode alguém estar tão isolado do mundo atual quanto o papa Bento 16? Veja só: ninguém mais discute a importância da camisinha para prevenir a AIDS. Para o papa, porém, os católicos não devem usá-la nem devem transar por prazer. A nossa cultura também reconhece como uma conquista o direito das mulheres de se divorciar e comandar a própria vida, e a tolerância aos homossexuais é um objetivo. Não para o papa, que acha o feminismo bobagem, o divórcio ‘uma praga’ e os homossexuais um problema” (NARLOCH, 2007, p. 27). Além disso, o atual papado comunga com a ideia de um cardeal italiano que afirmou que a “vinda do anticristo se aproxima e que o enviado do diabo estará disfarçado de ecologista, pacifista ou ecumenista” (BOTELHO, 2007, p. 67).
Karl R. Popper
Filósofo da ciência nascido em Viena, Karl Popper (1902-1994) escreveu em “A Sociedade Aberta e seus Inimigos” (1945) que “em suma, a atitude racionalista, ou, como talvez possa rotulála, ‘a atitude da razoabilidade’, é muito semelhante à atitude científica, à crença de que na busca da verdade precisamos de cooperação e de que, com a ajuda da argumentação, poderemos atingir a tempo algo como a objetividade” (POPPER apud ROCHA, 2002, p. 94-95). A atitude de razoabilidade de Popper é o mesmo princípio de tolerância de Locke, de Voltaire e de Russell.

Sociedade Aberta

Tomamos aqui os conceitos de “sociedade fechada” e “sociedade aberta” propriamente no sentido daquele empregado por Karl R. Popperaenquanto historicamente eles definem, em parte, as condições da sociedade medieval, moderna e contemporânea, respectivamente. A sociedade aberta de Popper é presidida pelos princípios da razão: “Podemos então dizer que o racionalismo é uma atitude de disposição a ouvir argumentos críticos e a aprender da experiência. É fundamentalmente uma atitude de admitir que ‘eu posso estar errado e vós podeis estar certos, e, por um esforço, poderemos aproximar-nos da verdade’” (POPPER apud ROCHA, 2002, p. 94).
A tolerância religiosa ainda representa um desafio para a humanidade “é preciso, portanto, pensar a intolerância, discuti-la, trazê-la para o centro do debate de tal modo que os resultados das reflexões sejam divulgados, estimulando novas formas de relacionamento entre os homens, marcadas pela tolerância e pela compreensão” (PAULA, 2005, p. 58).
O ideal é que não precisemos mais de fugas para a compreensão da condição humana. Mas, enquanto a humanidade não avança nesse sentido, e uma vez que não alcançamos ainda a sociedade aberta de Popper, convém que sejamos respeitosos e tolerantes com as crenças uns dos outros, inclusive com o direito daqueles que não professam nenhuma religião. Do contrário, confirmaremos a triste observação de Locke: “Tem sido este o curso de eventos comprovados com abundância pela História, sendo, portanto, razoável supor que o mesmo ocorrerá no futuro, se o princípio de perseguição religiosa prevalecer” (LOCKE, 1978, p. 25).
Finalmente podemos dizer que o obscurantismo leva à intolerância e vice-versa. A intolerância é o principal fruto do obscurantismo e, ao mesmo tempo, este último conduz fatalmente à prática da intolerância.

Referências
BAÉZ, Fernando. História Universal da Destruição dos Livros. Rio de Janeiro: Ediouro, 2006.
LE GOFF, Jacques. Os Intelectuais na Idade Média. Trad. Maria Júlia Goldwasser. 4ª edição. São Paulo: Editora Brasiliense, 1995.
LOCKE, John. Carta acerca da Tolerância. Trad. Anuar Aiex. Coleção Os Pensadores. São Paulo: Abril cultural, 1978.
PILETTI, Nelson e Claudino. História e Vida. Volume 4: da Idade Moderna à atualidade. 11ª edição. São Paulo: Ática, 1997.
ROCHA, Washington Alves da. No Coração de Antígona – Ensaios histórico-filosóficos. Natal: ACE Pinheiro e Alves Editora, 2002.
RUSSELL, Bertrand. Ética e Política na Sociedade Humana. Trad. Nathanael C. Caixeiro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1977.
VOLTAIRE. Cartas Inglesas ou Cartas Filosóficas. Trad. Marilena de Souza Chauí. Coleção Os Pensadores. 2ª edição. São Paulo: Abril Cultural, 1978.
_______. Dicionário Filosófico. Trad. Bruno da Ponte, João Lopes Alves e Marilena de Souza Chauí. Coleção Os Pensadores. 2ª edição. São Paulo: Abril Cultural, 1978.
_______. O Filósofo Ignorante. Trad. Marilena de Souza Chauí. Coleção os Pensadores. 2ª edição. São Paulo: Abril Cultural, 1978.
_______. O Túmulo do Fanatismo. São Paulo: Martins Fontes, 2006.

Francisco Júnior Damasceno Paiva é graduado e licenciado (1998) em Filosofia pela Universidade Federal da Paraíba e professor da rede pública de ensino do RN