sexta-feira, 22 de abril de 2011

MOFICUSHINTH* E TERAPIA HARI*: A ORIGEM

PERGUNTAS PERFEITAS, RESPOSTAS IMPERFEITAS

O que hoje está se tornando uma realidade tem suas raízes, provavelmente, na década de 1980, quando eu, ainda jovem Jaya, comparando a visão que tinha do mundo com as concepções herdadas de minha família, cultura e religião, percebi as discrepâncias entre elas. Era difícil para mim manter-me indiferente a tantas e tamanhas incongruências. O mundo como criação de Deus era uma impossibilidade; Deus como perfeição era um absurdo. Por que? Porque um Deus perfeito só poderia ter feito um mundo perfeito, e o mundo tal como o via, parecia tão imperfeito, que só poderia ser a criação de um demônio.
Nascido numa família católica, filho de uma fervorosa cristã que tinha lá sua devoção a certos santos e fé (quase) inabalável em Jesus Cristo, naturalmente, trazia comigo as marcas da religiosidade de minha mãe e também tentava encontrar em mim mesmo os fundamentos daquelas crenças; mas não encontrava. Eu não conseguia entender, por exemplo, qual a razão do sofrimento, se Deus poderia nos ter poupado dele. A  explicação da Igreja de que é pelo sofrimento que nos purificamos e, assim, compreendemos e somos admitidos por Deus, é, para dizer no mínimo, “de mal gosto”. A ideia de que o mal adentrou a Criação pela desobediência humana de dois seres ingênuos, que nem mesmo sabiam a diferença entre obedecer e desobedecer, pois não se percebiam a si mesmos como estando “nus”, não encontrava respaldo racional em minha cabeça. “Haveria alguma explicação razoável para tantas coisas sem nexo?” – era o que me perguntava, e não via no meu horizonte qualquer chance de encontrar resposta.
Bem, já diz o ditado que “remédio de doido é doido-e-meio”. Já que o cristianismo não tinha a mínima condição de esclarecer minhas dúvidas, fui bater às portas das religiões orientais, não sem antes dá uma última chance ao espiritismo cristão de Alan Kardec. Foi nele que encontrei os termos “reencarnação” e “carma”, que, no primeiro momento, me pareceram muito interessantes e até explicativos, mas logo geraram outras questões que nem Kardec tinha as respostas. Além disso, a necessidade de ser aceito pela comunidade cristã fez com que o espiritismo se torna-se uma doutrina adocicada demais para um mundo amargo ao extremo – o que poderia parecer, à primeira vista uma solução (um grande doce para um grande amargo), nada mais era, para mim, do que uma estratégia para capturar os desiludidos do cristianismo, porém presos às crenças cristãs.
O fundamentalismo do islã mais me afastou dele do que me atraiu. Talvez, eu, movido pelo preconceito, talvez pela própria rigidez de suas práticas, o islamismo não conseguiu atrair-me naquela busca religiosa. Foi quando conheci a Sociedade Teosófica, de Anne Besant e Charles Leadbeter, e com ela uma das pessoas que mais me influenciariam, a partir dali – J. Krishnamurti (depois de ter estudado Filosofia, considero-o a encarnação de Sócrates). Conselho: quem esperar encontrar as respostas de suas indagações nos livros e nas palavras do já falecido Krishnamurti, melhor voltar à sua velha Bíblia (aquela, que para os evangélicos é dublê de desodorante e para os católicos é guarda-pó no canto da sala). Ele diz a você o que você não queria ouvir e retorna sua pergunta da maneira como você jamais queria perguntar. Exemplo: “Quando estamos sozinhos, nos achamos muito feios, por isso procuramos o outro, por isso queremos encontrar a beleza no outro, por isso fazemos aos outros perguntas cujas respostas estão em nós mesmos – e são muito feias!”. Armado de tal archote, continuei minha busca.
A moral estóica do budismo me ensinou um pouco de disciplina e me fez ver que é possível deixar Deus de lado, como uma possibilidade, não como certeza, e estar sempre “a caminho”, nunca “em algum lugar” – isto é, nunca convicto de coisa alguma. Dali, adentrei o hinduísmo, onde Deus, retalhado em várias divindades, avatares e encarnações, tomou uma feição mais humana, apesar de exótica – Brahma, Vishnu e Shiva eram aspectos de uma mesma realidade transcendente, que manifestada no mundo, gerava os avatares e deuses. Foi ali que conheci Krishna, e logo senti uma atração inexplicável.
Foi então que soube da existência do “Movimento Hare Krishna” no Brasil e logo tive a surpresa de encontrar, dentro de um ônibus urbano em eu estava, um membro do Movimento, que me ofereceu uns “pauzinhos cheirosos” (incensos) e um livreto, impresso em papel reciclado, intitulado “Perguntas Perfeitas Respostas Perfeitas”. Minhas respostas tinham de estar ali. 

(Continua na próxima semana)     

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